terça-feira, 6 de maio de 2014

"Justiça"

   
   Quando um rapaz foi preso, com uma trava de bicicleta, a um poste, aqui no Rio, abriu-se uma discussão sobre a "barbárie" que estávamos vivendo em nossa sociedade. Diga-se de passagem, discussão absolutamente pertinente e necessária.
    De um lado, aqueles que diziam que, como a Polícia não dava jeito na situação, o povo deveria "tomar as rédeas" da situação e fazer "justiça" com as próprias mãos; de outro, aqueles que, falando em nome dos Direitos Humanos, defendiam que ninguém pode sofrer tal violência.
    De minha parte, sempre defendo que quem tem que fazer justiça são as instituições do Estado. A Polícia tem que prender e investigar e o Judiciário tem que julgar a culpa e determinar a pena de quem se põe à margem da organização social.
   Agora, se a questão era importante quando prenderam um garoto que, segundo tudo indica, era realmente "culpado", o que dizer do espancamento, até a morte, de uma moça que, segundo tudo também indica, era inocente da acusação que lhe foi feita?
   Falo do caso da moça que foi acusada de sequestrar crianças, em São Paulo, e que, arrastada e espancada, veio a falecer. Parece que seu maior "delito" foi ser meio "diferente", o que tem a ver com um transtorno  mental do qual poderia ser portadora.
    Eu nem estou discutindo a questão da pena capital, em relação a qual sou favorável, embora em casos especialíssimos. No entanto, a Justiça - e não a "justiça" -, mesmo que seja tirar a vida de um indivíduo considerado, por exemplo, irrecuperável, tem que ser feita com toda a possibilidade de defesa, ainda que isso torne a responsabilização mais lenta.
    Não sou um sujeito "mórbido", e evito ver imagens de coisas terríveis desnecessariamente. No entanto, fiz questão de acessar os vídeos deste caso, para ter a real dimensão do que é um possível inocente ser massacrado por uma turba irracional e insensível. Vendo as imagens, senti-me como Spinoza querendo sair às ruas com um cartaz onde escrevera "Ultimi barbarorum", quando algo parecido ocorreu com seus amigos, os irmãos De Witt.
    Em vez de "Somos todos macacos", acho que é mais apropriado dizer "Somos todos insensíveis".

   

Nenhum comentário: