quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O que há de meio "estranho"?

 

    O que julgo mais "estranho" é que, aparentemente, o suposto plano de substituição dos valores... ou de "transvaloração dos valores" - lembrando o bigodudo Nietzsche - não apresenta os valores novos apenas como mais dignos de serem tomados como fundamento da sociedade pretendida. Isso seria absolutamente compreensível. Parece, contudo, que os valores - novos e antigos - são colocados para "brigar", com um potencial, inclusive, de degradação absoluta da ordem, em vez de uma substituição de uma ordenação inconveniente, por outra melhor estabelecida.

    Vamos a um exemplo.

    Marx havia criticado a "família burguesa" pela mesma ter entrado na lógica da mercantilização. Em O manifesto comunista (1848), o filósofo alemão escreve: "A burguesia arrancou às relações familiares o seu comovente véu sentimental e as reduziu a pura relação monetária". 

    Ora, o que seria de se esperar da família inserida em uma nova ordem que se guiasse pelo marxismo? Imagino que seria a nova família abandonar a pura relação monetária e ter sobre si novamente o comovente véu sentimental. 

    Mas e se, em vez disso, propuséssemos o fim da família nuclear tal como a conhecemos? Não seria algo parecido com aquela ideia de jogar fora o bebê com a água da bacia, para eliminar a sujeira após o banho da criança? Ou seja, para resolver a situação problemática em relação a determinado objeto, elimina-se o objeto. Melhorando o exemplo: para curar um doente de câncer, mata-se o doente.



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