domingo, 13 de fevereiro de 2011

Revista Mente Cérebro nº 217

   A matéria de capa da revista em questão diz respeito aos "mitos da psicologia". O artigo indica que "o senso comum faz uma mistura surpreendente de fatos comprovados e equívocos. Apesar de errados, muitos conceitos relativos ao funcionamento da mente e do cérebro e ao comportamento humano continuam amplamente difundidos". Além disso, comenta a diversidade de fontes - sejam livros, sites, etc. - que veiculam informações sobre temas da Psicologia. Segundo o texto, "parte dessas informações é correta e útil. No entanto, cada vez mais saem publicações próximas da chamada 'psicologia de botequim' - rasa, óbvia e, principalmente, equivocada. Uma espécie de 'psicomitologia', um conjunto de dados errôneos".
  A proposta do texto - escrito por Scott O. Lilienfeld, Steven Jay Lynn, John Ruscio e Barry L. Beyerstein, todos professores de Psicologia em universidades americanas - é, então, desfazer os enganos desses "mitos da psicologia", apresentando dados que corroborem a falta de fundamentação teórica dos mesmos.
   São expostos os erros de se pensar, por exemplo, que liberar a raiva ajuda necessariamente a dissipá-la; que cada aluno certamente aprende melhor segundo determinado método pedagógico e que pensamento positivo cura o câncer.
  Embora as explicações sejam muito sucintas, parecendo, por vezes até, que só estamos trocando um mito por outro, há a referência de que o texto é uma adaptação do livro dos autores do artigo, chamado "50 great myths of popular psychology".
  Vale a leitura, pelo menos, para livrar-se de velhos enganos. Mas, o mais interessante que achei na revista não se encontra nesse artigo. Gostei muito da "Carta da editora", que abre a revista. O texto é de Gláucia Leal, a editora da revista, e tem por título "Uma pitada de dúvida". Penso que serve a uma reflexão sobre nossas próprias "ideologias".
  Segue um trecho do texto:
  "Precisamos acreditar. Obviamente não em tudo, não o tempo todo. Mas sistemas de crenças - que tomamos como verdade, muitas vezes até de forma equivocada - têm papel importante em nossa estruturação psíquica. E, curiosamente, quando temos grande certeza de algo os fatos parecem conspirar para comprovar nossas hipóteses. A maioria dos psicólogos e psicanalistas concorda que essa 'incrível coincidência' revela nada mais que a direção na qual concentramos atenções e fazemos investimentos psíquicos mais intensos. Afinal, tendemos a dar sentido àquilo que, de alguma forma, ecoa em nossas mentes e encontra ressonância no universo subjetivo de cada um. Quando não damos conta de nos acalmar diante das angústias que inevitavelmente nos afligem, recorremos ao que sabemos e acreditamos. Criamos nossa mitologia particular e nos apoiamos nela para sobreviver. [...] Construímos mitos em vários níveis: pessoais, familiares e coletivos".
  Problemática essa "necessidade" de acreditar para poder enfrentar as angústias, apoiando-nos em mitologias para sobrevivermos. Em alguma medida, parece que a angústia, impondo um óbvio desconforto psicológico, só pode ser eliminada pela substituição do inseguro pelo seguro - ainda que a "firmeza" disto que nos dá segurança seja só aparente. Sem querer parecer um defensor da angústia e do desconforto psicológico, pergunto-me se não é no embate com esta angústia que a situação pode se resolver efetivamente. De certo, enfrentar é mais complicado do que deixar de lado, simplesmente crendo numa solução... mas será que isso realmente elimina a angústia ou meramente a ameniza?
  E se é possível recorrer aos mitos para apoiar-nos nas angústias psicológicas, também será na angústia ontológica, da qual tanto falam os existencialistas? 

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