Uma das teses que aproximaram - ainda que momentaneamente - Nietzsche a Spinoza foi aquela sobre a inexistência do livre-arbítrio. Em "Crepúsculo dos ídolos", no artigo "Os quatro grandes erros", Nietzsche escreve sua opinião - doxa, em Filosofia, não é legal! -, seu pensamento - sempre crítico e ácido - sobre o livre-arbítrio. Diz ele:
"Hoje não temos mais compaixão pelo conceito de 'livre-arbítrio': sabemos bem demais o que é - o mais famigerado artifício de teólogos que há, com o objetivo de fazer a humanidade 'responsável' no sentido deles, isto é, de torná-la deles dependente... Apenas ofereço, aqui, a psicologia de todo 'tornar responsável'. - Onde quer que responsabilidades sejam buscadas, costuma ser o instinto de querer julgar e punir que aí busca. O vir-a-ser é despojado de sua inocência, quando se faz remontar esse ou aquele modo de ser à vontade, a intenções, a atos de responsabilidade: a doutrina da vontade foi essencialmente inventada com o objetivo da punição, isto é, de querer achar culpado. Toda a velha psicologia, a psicologia da vontade, tem seu pressuposto no fato de que seus autores, os sacerdotes à frente das velhas comunidades, quiseram criar para si o direito de impor castigos - ou criar para Deus esse direito...
Os homens foram considerados 'livres' para poderem ser julgados, ser punidos - ser culpados: em consequência, toda ação teve de ser considerada como querida, e a origem de toda ação, localizada na consciência ( assim, a mais fundamental falsificação de moeda in psychologicis [em questões psicológicas] transformou-se em princípio da psicologia mesma...). Hoje, quando encetamos o movimento inverso , quando nós, imoralistas, buscamos com toda a energia retirar novamente do mundo o conceito de culpa e o conceito de castigo, e deles purificar a psicologia, a história, a natureza, as sanções e instituições sociais, não existem, a nossos olhos, adversários mais radicais do que os teólogos, que, mediante o conceito de 'ordem moral do mundo', continuam a empestear a inocência do vir-a-ser com 'culpa' e 'castigo'. O cristianismo é uma metafísica do carrasco..."
Esse Nietzsche não mede palavras, hein!
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