Para os que não lembram, o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775-1854) forma um par inusitado com outro germânico - esse, contemporâneo -, Ludwig Wittgenstein (1889-1951), de reformuladores integrais de sua própria filosofia. Mas tanto Schelling quanto Wittgenstein não se limitaram apenas a desdizer, em um segundo momento, o que haviam dito no primeiro; eles disseram exatamente o contrário... meio ao estilo "Metamorfose ambulante" de Raul Seixas, com uma radicalidade maior.... Noooossa!!!
Brincadeiras à parte, o fato é que o "segundo" Schelling apresenta semelhanças com nosso querido Spinoza.
Vejamos o que diz o livro "A filosofia alemã", de Maurice Dupuy, publicado pelas Edições 70:
"No segundo período do seu pensamento (cf. sobretudo Bruno ou o princípio divino e natural das coisas, 1802), Schelling defende uma 'filosofia da identidade', mais ou menos inspirada em Espinosa: se, como vimos, o espírito e a natureza se referem um ao outro e se condicionam reciprocamente, então é necessário que tenham um fundamento comum e que provenham de uma mesma actividade primordial, de que são duas manifestações diferentes. Por conseguinte, este princípio único do subjectivo e do objectivo não é em si-mesmo nem subjectivo nem objectivo, nem espírito consciente nem natureza. Schelling denomina-o de Absoluto ou identidade do subjectivo e do objectivo. O Absoluto não é uma unidade abstracta e vazia. É a razão absoluta, o em-si das coisas, e, pode dizer-se, 'concreto' visto que, apesar da sua unidade, contém virtualmente em si todas as diferenças e oposições. Enquanto simples possibilidades dos opostos, é, sem dúvida, 'a indiferença absoluta', a noite em que se desvanecem todas as diferenças, mas a sua 'vida' consiste no seu desdobramento na multiplicidade, na separação relativa dos opostos que nele coincidem; o mundo é o fruto desta actualização: por isso, nele o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto, não constituem opostos reais, mas ideais ou abstractos. É por isso que um e outro estão presentes em todos os fenômenos, embora em graus diferentes. Esta 'diferença quantitativa' determina toda a diversidade das coisas finitas, que permanecem no fundo unidade dos opostos e totalidade".
Dá para ler isso sentindo uma certa presença do espírito spinozano, não é? A parte "o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto", então... nem falo mais nada.
Acho, entretanto, que Schelling foi mais "esperto" que Spinoza, ao usar "Absoluto" em vez de "Deus". Quem sabe o luso-holandês não teria até evitado sua excomunhão se tivesse usado "Absolutus sive Natura", em vez de "Deus sive Natura"?
Brincadeiras à parte, o fato é que o "segundo" Schelling apresenta semelhanças com nosso querido Spinoza.
Vejamos o que diz o livro "A filosofia alemã", de Maurice Dupuy, publicado pelas Edições 70:
"No segundo período do seu pensamento (cf. sobretudo Bruno ou o princípio divino e natural das coisas, 1802), Schelling defende uma 'filosofia da identidade', mais ou menos inspirada em Espinosa: se, como vimos, o espírito e a natureza se referem um ao outro e se condicionam reciprocamente, então é necessário que tenham um fundamento comum e que provenham de uma mesma actividade primordial, de que são duas manifestações diferentes. Por conseguinte, este princípio único do subjectivo e do objectivo não é em si-mesmo nem subjectivo nem objectivo, nem espírito consciente nem natureza. Schelling denomina-o de Absoluto ou identidade do subjectivo e do objectivo. O Absoluto não é uma unidade abstracta e vazia. É a razão absoluta, o em-si das coisas, e, pode dizer-se, 'concreto' visto que, apesar da sua unidade, contém virtualmente em si todas as diferenças e oposições. Enquanto simples possibilidades dos opostos, é, sem dúvida, 'a indiferença absoluta', a noite em que se desvanecem todas as diferenças, mas a sua 'vida' consiste no seu desdobramento na multiplicidade, na separação relativa dos opostos que nele coincidem; o mundo é o fruto desta actualização: por isso, nele o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto, não constituem opostos reais, mas ideais ou abstractos. É por isso que um e outro estão presentes em todos os fenômenos, embora em graus diferentes. Esta 'diferença quantitativa' determina toda a diversidade das coisas finitas, que permanecem no fundo unidade dos opostos e totalidade".
Dá para ler isso sentindo uma certa presença do espírito spinozano, não é? A parte "o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto", então... nem falo mais nada.
Acho, entretanto, que Schelling foi mais "esperto" que Spinoza, ao usar "Absoluto" em vez de "Deus". Quem sabe o luso-holandês não teria até evitado sua excomunhão se tivesse usado "Absolutus sive Natura", em vez de "Deus sive Natura"?
Um comentário:
meu caro ricardo, gostei muito do texto. grosso modo, concordo mais com sartre quando ele diz existir entre o ser e o não-ser, nada mais que o próprio nada. morrendo a representatividade, ou seja, o ser, o não-ser deixa de existir ficando apenas o nada. para sartre o ser-em-si é o fenômeno (natureza) e o ser-para-si, a consciência (espírito). um não existe sem o outro, porque no meio deles está o nada.É o processo da nadificação. Somos enquanto existimos.
um abraço,
anibal werneck de freitas.
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