Tenho andado com muita vontade de postar, mas o tempo - ou a falta dele - não tem ajudado. Aos poucos, então, solucionarei essa "demanda reprimida" postando umas coisas "antigas" que me foram passando pela cabeça.
A primeira dessas "antiguidades" vem da coluna do Marcelo Adnet, em O Globo de sábado passado.
O sempre brincalhão Adnet tocou o dedo em feridas brasileiras com bastante seriedade. Ainda sob o impacto das notícias da vinda de Obama e da "necessidade" dos rivais futebolísticos Flamengo e Vasco entregarem suas respectivas camisas para o mais poderoso homem do mundo, Adnet escreveu:
"Fora a relevante motivação histórica cruzmaltina [referindo-se ao fato do Vasco ter sido o primeiro time a lutar pela inclusão dos negros no futebol], acho esse clássico político-publicitário lamentável, por ser parte desta onda espetaculosa do futebol. Segurar uma camisa é sinal de apreço e admiração ou simplesmente um favor prestado a uma autoridade local? Deviam ser mais originais e entregar a ele uma camisa do Friburguense, para lembrar o recente drama na serra, ou até do Japão, solidários que somos a esta terrível tragédia. Quem sabe até uma camisa do Brasil, este país em que vivemos. Mas não conseguimos deixar de puxar a sardinha para o nosso lado e confirmar certa mesquinharia de espírito. Tentamos usar Obama como trampolim para nossas paixões pessoais".
A segunda ferida que Adnet tocou foi a da falta de estrutura "crônica" brasileira. Bastaria lembrar os sinais de preocupação que já foram dados pela Fifa, no que diz respeito à realização da Copa de 2014 no Brasil, para sentir a força do problema. Obviamente, restringindo-me ao campo futebolístico - "campo", figurativamente, é claro! -, pois o Brasilzão político, econômico e social dá mostras muito mais vívidas dessa ausência de estrutura. O pior, entretanto, é o insistente "tapar o Sol com a peneira" das nossas autoridades, que negam o óbvio, mostrando pequenas e isoladas conquistas e avanços que pouco contribuem para retirar das nossas costas essa "cruz" de desorganização crônica.
Adnet, numa coluna que é esportiva, escreve o seguinte sobre o assunto, aproveitando a "deixa" da saída do Muricy do Fluminense:
"Marketing demais, homens que se acham mais importantes que seus clubes, falta de estrutura no Rio, em Itaperuna e no Brasil inteiro, com recorrentes mal (sic) exemplos vindos de Brasília. A falta de estrutura, desculpa perfeita e esfarrapada de Muricy, está por todos os lados e não é só do Flu. A falta de estrutura é nossa. Olho para os lados na caótica São Paulo e me pergunto - isso é progresso? Muito dinheiro para o patrão e que se dane a população. Enxergar através da parede do curto prazo e reforçar as raízes para o futuro não é tão fácil quanto parece. Mas vamos esperar e acreditar que dias mais estruturados virão".
Encerrei a leitura do texto e a última frase do Adnet fez-me lembrar o pensador italiano Antonio Gramsci: "Pessimismo do intelecto; otimismo da vontade".
A verdade é que o comediante Adnet parece ter acabado se rendendo à pessoa inteligente que é o fundamento daquele que nos faz rir. E nessa concessão, o Sr. Marcelo Adnet, o sério, apareceu com ótimas reflexões: "marketing demais" [na sociedade como um todo, e não apenas no futebol]; "maus exemplos vindos de Brasília" [infelizmente, menos no futebol do que na política]; "desculpa perfeita e esfarrapada do Muricy" [mostrando que mesmo uma desculpa esfarrapada pode ser perfeita... Que aprendam aqueles que têm que se defender de um batom na cueca!]; "A falta de estrutura é nossa" [para azar de nós brasileiros, terceiro mundistas]; "... caótica São Paulo... isso é progresso?" ["ordem e progresso" é o lema, mas parece que precisamos trocar por "caos e progresso"] e "enxergar através da parede do curto prazo" [enquanto permanecermos enaltecendo tanto o "jeitinho brasileiro", tenderemos a deixar de valorizar o planejamento sério e que dá frutos frondosos e suculentos a longo prazo].
Resumo da ópera: parabéns, Adnet!
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