Lia o excelente artigo de A. A. Long, O estoicismo na tradição filosófica: Spinoza, Lipsius, Butler, que faz parte do livro Os estoicos, organizado por Brad Inwood e publicado pela Odysseus, aqui no Brasil - aliás, para não precisar dizer mais nada sobre a qualidade do tal livro, basta indicar que ele é a tradução do The Cambridge Companion to the Stoics -, quando vi uma grave acusação sobre um "erro" do nosso querido holandês.
É certo que a "acusação" está numa nota de rodapé, com aquela letrinha miúda, e é "amenizada" com a referência de que se trata de um "equívoco" de Spinoza. Mas... vamos à nota:
"Spinoza representa os estoicos de maneira equivocada ao escrever (V, Prefácio) que 'a mente não tem domínio absoluto sobre as paixões [NOTA MINHA: até aqui, Spinoza está falando de sua filosofia]; no entanto, os estoicos achavam que elas dependem inteiramente de nossa vontade e que podemos comandá-las absolutamente'. Aqui, Spinoza parece confundir a tese estoica de que as paixões são juízos ou funções da mente racional com a liberdade da vontade em relação à causalidade antecedente. Lipsius procede de maneira semelhante (Física, I 14)".
A parte forte da declaração spinozana são os advérbios "inteiramente" e "absolutamente". Entretanto, não sei se ele estava completamente equivocado no seu texto. Isto porque, pode ser que Spinoza esteja tratando do "sábio estoico", que, conforme a ortodoxia do Estoicismo, tem, sim, a capacidade de julgar perfeitamente, o que representaria um completo acerto em relação ao que é apropriado ou não à sua vida, e isso acabaria por excluir a força das paixões sobre ele.
Ainda que haja um engano na percepção spinozana da doutrina estoica - ressalvando-se que ele possuía em sua biblioteca livros de Sêneca e Epicteto -, há que se reconhecer que os estudos sobre essa Escola evoluíram muitíssimo após o tempo dele, o que trouxe novas luzes a antigas ideias sobre o Estoicismo.
Ainda assim, eu arriscaria dizer que Spinoza não se enganou!
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