Meu entendimento sobre a proposta spinozana de nos libertarmos da "escravidão de nossas paixões" é de que ele entende que devemos nos modificar o suficiente para que determinados sentimentos que nos submetem, e que, portanto, nos fazem agir de uma forma que não é saudável para nós mesmos, percam esta força. De certo modo, o que acontece é que se desenvolve em nós uma alteração na nossa própria "natureza" - ou, como diria a ética aristotélica, no nosso "caráter".
Curiosamente, esse meu modo de entender a proposta spinozana não é declarada tão explicitamente assim pelo holandês, mas aparece "com todas as letras" na Segunda consideração intempestiva (1874), de Nietzsche.
O bigodudo escreve:
"Pois porque somos o resultado de gerações anteriores, também somos o resultado de suas aberrações, paixões e erros, mesmo de seus crimes; não é possível se libertar totalmente desta cadeia. Se condenamos aquelas aberrações e nos consideramos desobrigados com relação a elas, então o fato de provirmos delas não é afetado. O melhor que podemos fazer é confrontar a natureza herdada e hereditária com o nosso conhecimento, combater através de uma nova disciplina rigorosa o que foi trazido de muito longe e o que foi herdado, implantando um novo hábito, um novo instinto, uma segunda natureza, de modo que a primeira natureza se debilite".
É interessante perceber que a proposta nietzscheana vai além do "novo hábito" aristotélico, criando até mesmo um "novo instinto" - algo mais fundamental, mais primário - e uma nova natureza. Se não fosse um antiessencialista, Nietzsche teria escrito "uma segunda essência".
Muitas vezes penso que, se Nietzsche continuasse estudando Spinoza, ele seria um bom spinozano! Rsss.
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