A edição de janeiro de 2011 da revista Super Interessante traz, como matéria de capa, o artigo "Destino existe?".
Há, na verdade, quatro artigos tentando responder à questão que aparece na capa. O segundo deles, chamado "O destino está em Einstein", lida com o tema de um modo que parece, em alguma medida, aproximar-se do "determinismo spinozano". Aliás, o "determinismo" é um dos temas mais complexos - e mais centrais -de Spinoza e, como já foi mostrado em outros posts do blog, Einstein admirava e concordava, pelo menos intuitivamente, com o filósofo luso-holandês.
É importante lembrar que o determinismo tem relação direta com um tema que apareceu, há pouco tempo, aqui no blog: o livre arbítrio humano.
Vamos a trechos do artigo em questão, escrito por Alexandre Versignassi, basicamente apresentando uma experiência mental sugerida pelo físico Brian Greene, da Universidade de Columbia.
"Imagine tudo o que está acontecendo agora... Você acaba de piscar o olho. Uma moeda afunda na Fontana di Trevi, em Roma... Agora vou pedir que um leitor de uma galáxia muito, muito distante faça o mesmo exercício. Na ideia de agora que ele faz do Cosmos vai estar você piscando o olho, a moeda e tudo o mais? Vai.
Mas aí, o leitor da outra galáxia... se levanta [e vai à cozinha]. Agora que ele está na cozinha, peço que ele faça outro retrato mental do Universo. Neste momento muda tudo. Na nova imagem dele, feita só dez segundos depois, a Terra estará no ano 2100. Isso acontece porque a forma como os indivíduos percebem a passagem do tempo muda conforme eles se movimentam. Foi o que Einstein descobriu... Sob as velocidades do dia a dia [como, inclusive, foi aquela do ET indo até a cozinha], o efeito temporal é minúsculo... Só que a história muda quando entram distâncias muito grandes na jogada... distâncias intergaláticas, de bilhões de anos-luz, amplificam o efeito da velocidade. [...] as coisas que o personagem imagina como reais no presente dele poderiam incluir fatos que para nós ainda não foram resolvidos - como quem será o presidente da República em 2100. Naquilo que para ele é um passado remoto estaria o dia e a causa exata da sua [do leitor terráqueo] morte. E você não tem como mudar isso. Em outras palavras: seu destino está decidido. Por isso Einstein disse que a diferença entre passado, presente e futuro é ilusória. Na prática, tudo o que ainda vai acontecer já aconteceu".
Intrigante o texto, não é?
É certo que, para fazer justiça ao desenvolvimento da questão, a frase do título do post - que está no subtítulo do artigo da revista -, o "agora" em que o futuro existe simultaneamente ao presente não é o do próprio observador. Além disso, de certo modo, sempre há, pelo menos como a questão é resolvida no texto, um "decorrer" de tempo entre presente e futuro... o que, em Spinoza, acontece de modo diferente.
E, para apimentar a questão do livre arbítrio, o texto registra: "a ciência ainda não criou uma forma de conciliar livre arbítrio com Einstein". É bem verdade que essa não é uma limitação "da ciência", já que existem teorias adversárias àquela de Einstein. O que me parece correto indicar é que a teoria de Einstein, que é, sob determinados limites, válida, não permite essa conciliação, dando espaço a que se demonstre a inexistência do livre arbítrio.
Um comentário:
Ricardo, entre o cronos e a etérea eternidade há o instante, o tempo do acontecimento... O Kairós dos nossos índios...
Se o porvir dependesse do relógio, simplesmente ou se estivesse nos escritos das estrelas... viveríamos numa encruzilhada. Um tempo a ser tecido e outro já bem escrito, e o nvo e o difrente proscrito da nossa jornada...
Temos vários tempos e várias histórias...
Uma que é atemporal... onde o nvo já existe no universo virtual da realteridade.
atualizamos , assim, o nvo na caminhada e criamos o destino nos entres da vida e dos sonhos, ambos verso e reverso desta louco e treloucada vida chamada realidade.
Abraços Jorge
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