Já há algum tempo, adquiri o livro "Introdução a Schopenhauer", de Adolphe Bossert, publicado no Brasil pela Editora Contraponto.
Embora se trate de uma obra originalmente antiga, a versão brasileira é deste ano.
As mais de trezentas páginas são muito bem divididas em pequenos artigos, cada um contendo cerca de dez a quinze páginas. Há um tanto da história pessoal de Schopenhauer e um outro tanto da doutrina desse grande metafísico, inclusive com citações diretas dos seus textos. Tudo é apresentado em um estilo elegante e claro. Ótima dica de leitura, portanto.
O título do post, que se refere ao engano de "gigantes", não diz respeito ao autor do livro em questão, mas ao próprio Schopenhauer.
Numa passagem de "O Mundo como Vontade e Representação" - mais especificamente no Livro IV, § 55 -, o "gigante" alemão escreve: "A vontade tem sido considerada um ato do pensamento; tem sido identificada ao juízo: foi o que fizeram, por exemplo, Descartes e Spinoza".
É interessante verificar que Schopenhauer identifica, nesse aspecto específico, dois pensadores bem pouco similares nisto. Não podemos esquecer que Spinoza apela ao termo "vontade" como o "conatus" que se refere apenas à alma - com todos os problemas que essa afirmação possa causar -, e não como um "juízo".
Bom foi verificar que o livro em questão, apesar de não se propor a comparar as doutrinas de Schopenhauer com as de nenhum outro pensador, registra o "engano" do alemão. Em nota, está dito: "A afirmativa é inexata pelo menos quanto a Spinoza; cf. Introdução de Princípios da filosofia cartesiana".
Há que se reconhecer, entretanto, que o que vem a seguir, na citação direta de Schopenhauer, apresenta alguns pontos de aproximação com o pensamento spinozano. Mas se trata de uma aproximação que parte de um pressuposto enganoso, suportando conclusões obviamente inseguras.
Mas o que chama mais atenção é a apresentação da posição do filósofo alemão, em contraponto com o que ele chama de "toda a antiga maneira de ver". Nesta apresentação, vemos que Schopenhauer simplesmente repete Spinoza, mesmo pretendendo refutar a concepção do holandês.
Vejamos o texto:
"Posto na presença de algo, ele [o homem] começaria por reconhecê-lo como bom, após o que o desejaria - ao passo que, de fato, ele o deseja inicialmente, e em seguida o declara bom. Em minha opinião, toda a antiga maneira de ver é o contrário da verdadeira relação entre as coisas".
Percebe-se que Schopenhauer inicia apresentando a posição que pretende refutar - supostamente a de Spinoza também -, para concluir exibindo, logo após o "ao passo que, de fato", seu próprio pensamento, que não é outro que o do holandês, ou seja, de que o homem não deseja algo porque ele é bom, mas o diz bom, justamente porque o deseja.
Se até os "gigantes" se enganam, o que direi eu, que sou apenas um "anão"?
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