"Era uma vez um país em que os candidatos a cargos eletivos anunciavam suas ideias para conquistar o eleitor e transformá-las em políticas públicas. As técnicas de propaganda eram utilizadas para dar um formato final e uma melhor comunicação a essas ideias.
Se esse país algum dia existiu, ele foi extinto: hoje, o candidato, como qualquer produto, é moldado, em tempo real, on demand, às necessidades do público, pouco importando se o que ele diz corresponde ao que pensa".
Bastante sagaz - e veraz - a percepção de Arnaldo Bloch, transcrita de sua coluna de O Globo, do artigo com mesmo título deste post.
Sagaz, veraz... e triste. Não que eu seja um "romântico" da Política... mas ainda teimo em acreditar ser possível uma Política que possa ser escrita com "P" maiúsculo.
A identificação - correta - do "candidato" como "qualquer produto", que é "moldado em tempo real", de acordo com pesquisas mercadológicas e com a ação dos "craques" dessa arte, os marqueteiros, é realmente desanimadora.
O artigo continua, indicando que 100% da responsabilidade desse cenário atual, segundo o historiador Antônio Villa, é justamente dos marqueteiros, "os grandes inimigos da política e do eleitor".
E Leonardo Boff complementa: "O discurso comum da política trabalha uma única intenção: a segunda intenção. Diz uma coisa, mas pensa outra. A retórica do político não está ligada à questão da verdade, mas do poder. Está, quase sempre, a serviço dos meios para alcançá-lo. A verdade só é dita quando interessa a esse fim".
Acho que o grande mestre Machiavelli está sendo mal utilizado aqui. Afinal, o príncipe do florentino tinha uma quase missão - a unificação de uma comunidade que não se reconhecia enquanto tal - e que, para isso, precisava usar de todos os meios disponíveis. Se esse poderia ser tomado como um exemplo de quando "os fins justificam os meios", isso não deve ser tomado como regra geral... talvez, apenas, como "regra emergencial".
Boff diz - ou, talvez, infelizmente apenas constate - que "a retórica do político não está ligada à questão da verdade, mas do poder". Bem... desde Platão, já nos acostumamos a ouvir que retórica é justamente isso: fazer um discurso verossímil... sem a necessidade real de que seja verdadeiro.
Parece-me, entretanto, que há uma lógica perversa aqui, quando um ex-operário nordestino, de infância sofrida, que sabe - na carne - como é difícil lidar com políticos oportunistas que aparecem nos confins mais longínquos só antes das eleições e que manipulam eleitores desinformados para obter deles votos, repete um modelo político que só interessa aos exploradores de toda uma nação. Talvez, o ex-operário, migrado por necessidade de sua terra natal, devesse ser o mais aguerrido defensor de uma inversão desse modelo... inversão, não do "conteúdo", mas do próprio formato. Isso é, não da substituição dos "inimigos" pelos "amigos", mantidas as mesmas circunstâncias... algo como "só mudam as moscas, mas a m... é a mesma". Não! Uma mudança do modo de operar a política, ajudando quem tem necessidades imediatas, que não pode esperar para "aprender a pescar", num primeiro momento, e por isso precisa de um "peixe-bolsa-família", mas que não pode viver de ameaças de que esta ajuda, fundamental naquele instante, possa ser retirada se o adversário ganhar a eleição. Uma mudança que dê claros sinais de que bons programas são suprapartidários - ou, até mais, apartidários, e sim que pertencem ao povo, que deve ter o direito de deles fruir.
Por último, eu rejeitaria a opinião do prof. Antônio Villa de que os marqueteiros têm 100% da culpa. Só tem esse poder quem atende a um sistema que valoriza o seu serviço. Portanto, políticos mal intencionados, povo desinteressado, mídia tendenciosa, etc., todos "auxiliam" na culpa desses "sofistas repaginados".
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