Vez por outra, dou uma passeada pelos blogs dos amigos. Um pouco mais raramente, dou meus "pitacos" nos assuntos lá tratados. A andança mais recente, com direito a opiniões, foi no blog do amigo Aníbal.
O assunto da vez foi a concepção de liberdade. Em determinada altura, havia uma colocação sobre a questão da "liberdade total" do homem.
É interessante perceber que Spinoza toma o "homem livre" como um "modelo de natureza humana", que pode ser útil como um paradigma, mas que não é realizável para o ser humano.
Aliás, sobre isso, Don Garrett, no artigo Spinoza's ethical theory, publicado no Cambridge Companion to Spinoza, escreve claramente: "absolute freedom is an approachable but unreachable ideal".
Essa é, inclusive, uma das grandes diferenças entre o pensamento estoico e o spinozano. Enquanto os primeiros percebem a possibilidade efetiva de um ser humano se tornar o "sábio estoico", Spinoza não concede o mesmo, no que diz respeito ao "homem livre". Se o "sábio estoico" pode se "materializar" em um homem de carne e osso, o "homem livre", por sua vez, não poderia.
Isso, entretanto, não é uma perda do pensamento spinozano, mas a marca do realismo do mesmo. O homem factual estará sempre submetido a algum grau de paixões; portanto, nunca poderá ser gozar de "liberdade total", que, por definição, corresponde a uma vida totalmente ativa, plena de potência de agir.
Por outro lado, ainda Garrett, no mesmo artigo citado diz: "The literal truth expressed in the idealizing portrait of the free man is that certain kinds of behavior become more prevalent as one becomes more free - that is, they vary proportionately with freedom". Ou seja, ainda que não haja a "liberdade absoluta", há a "liberdade relativa", na qual o homem se torna "mais livre". E é essa que nós buscamos, pois ao homem mais livre cabe uma maior felicidade... e, com isso, uma proximidade maior daquela "felicidade constante e suprema", a que Spinoza chama "beatitude".
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