sexta-feira, 19 de março de 2010

O pós-morte grego

  Ainda no rastro do post anterior, continuando com a "investigação" sobre qual a crença popular do grego sobre a "estadia" no Hades, podemos acrescentar duas coisas. A primeira é a ideia mitológica sobre o Rio Lethe e a segunda é uma informação complementar dada pelo professor Fernando Muniz.
  Ambas reforçam a tese de que a crença popular era a de que, no Hades, não havia uma continuidade da individualidade. No primeiro caso, lembrando a narrativa mítica sobre o Rio Lethe, verificamos que há um rio no Hades, com este nome "Lethe" - que significaria, em grego, algo próximo ao "esquecimento" -, onde as almas teriam que mergulhar para chegar ao local onde permaneceriam. Sugere-se, então, um esquecimento da identidade anterior... ou seja, uma "morte" efetiva enquanto personalidade.
  Uma segunda confirmação vem do próprio professor Muniz - superespecialista em Platão - de que essa tese platônica era, à época, inovadora, não pertencendo ao "senso comum" grego.
  Há uma terceira colaboração, de um amigo nosso, o professor  Guilherme Fauque, que lembrou o Mito de Er. Essa estória, entretanto, só aparece na "República", texto que já pertence ao período da maturidade platônica. Parece, portanto, que se Platão chega a ter claramente essa ideia de uma continuidade da individualidade pessoal, ou seja, da personalidade em sua maturidade, a semente para isso já se encontrava na sua juventude, como expresso na "Apologia".
  Fico com a impressão, portanto, de que Platão inaugura, de certa forma, um novo paradigma para a visão pós-morte, onde, apesar de um esquecimento parcial, haveria ainda uma individualidade sendo mantida... e, portanto, em realidade não haveria "morte". E se ele "inaugura" - ou pretende inaugurar - essa visão, depreende-se que ela não existia à época. Isto é, o grego "comum" acreditava, sim, numa continuidade "anímica", mas despersonalizada.
  Quem pensa diferente?
 
  Uma observação apenas: não por coincidência, a "alétheia" - tão traduzida por "verdade" -, cujo sentido mais "puro" de "desvelamento", "desocultamento", Heidegger resgatará - e eu diria "recordação", também -, é a negação desse "esquecimento" provocado pelo Rio Lethe.
 

3 comentários:

mundy disse...

Bem um assunto bem off, quando puder acesse o blog www.flusocio.com.br, leia o post Voce é o responsavel , e veja uma citaçaõ em particular, depois me responda.

Ricardo disse...

Compadre Fernando:
Sua capacidade de articulação futebolística é inegável. Portanto, a citação ao seu nome, num blog específico do esporte nem chega a me espantar. É certo que é um grande blog, com vários participantes... e comentadores, e que, dentre esses tantos, só os nomes de cinco - dentre eles o seu - apareceram, mas, volto a dizer, isso nem me espanta tanto.
De alguma maneira, entretanto, acho que isso deveria servir para "alavancar" o restante de sua vida, que você sempre comenta estar "meio mais ou menos". Que tal fazer Jornalismo e se dedicar aos esportes? Que tal começar a escrever crônicas esportivas - mas inclua a pontuação! Rsss. Esses seus textos livres demais são "problemáticos"...
Ou - quem sabe? - até participar efetivamente da política do nosso querido Flu.
De modo geral, só quero dizer que - num sentido bem pragmático - seria bom poder vê-lo utilizando o que há de "habilidade" e "capacidade" de ação em prol de uma boa saída existencial.
O que acha?
Acima de tudo, parabéns pelo reconhecimento do blogueiro.

Ricardo disse...

Já que entramos num off topic...
Sem querer implicar com o Flamengo... que, por pouquíssimo, não levou a segunda "lambada" de Joel Santana no mesmo ano, o clube rubro negro foi citado de modo bastante diferente pelo jornal O Globo, neste final de semana.
Normalmente, reconhece-se o supracitado jornal como meio de comunicação mais eficiente da chamada "Flaprensa" - ou seja, da forte corrente flamenguista que se faz representar na mídia carioca.
Entretanto, neste final de semana, a coisa parece ter ganho outros ares.
No sábado, numa matéria sobre "judeus e negros", o Arnaldo Bloch, após fazer "chacota" de si mesmo, enquanto judeu, contou uma piada que unia a religião e a "etnia" citadas. Entretanto, ao final, uma surpreendente provocação dizendo algo como: "vão dizer que é discriminação minha, mas o Flamengo não se dá bem nem em Universidade do Chile".
Até aqui, tudo bem... afinal, A.Bloch é um provocador.
No domingo, na coluna do humorista "Agamenon Mendes", havia uma foto (propositalmente trocadas) do ex(?) bandido "Escadinha" e a referência, se não me engano, ao Wagner Love - ou seria ao Adriano? -, e a coluna falava que são tantos os casos de jogadores do Fla envolvidos em situações "judicialmente problemáticas" que, em breve, seria melhor colocar repórteres policiais para fazer a cobertura do clube.
Até aqui, tudo bem... afinal, a coluna é humorística.
Mas, no mesmo dia, no mesmo jornal, numa das colunas esportivas - não me recordo qual das duas maiores -, eis que aparece a seguinte notinha (cito de memória): "Se o Wagner Love voltou para o Brasil para ser convocado, já conseguiu seu objetivo. A Justiça/o delegado o convocará para depor sobre sua 'escolta armada' no meio de uma festa na 'comunidade' tal...".
Quem te viu e quem te vê, hein, Globo? Rssss


Convocação do Wagner Love