Já sabem os "amigos dos amigos" mais antigos que tenho o hábito de trazer para a parte mais "visível" do blog comentários que acho passíveis de promover discussões interessantes. Sinto que desta forma a construção compartilhada do blog, tanto por mim, quanto pelos outros "amigos dos amigos", fica efetivamente estabelecida.
Prosseguindo com isso, que julgo ser um bom hábito, continuo uma discussão iniciada ao vivo e desdobrada em um comentário do amigo Alan - o qual, faço votos, que se torne mais um "amigo dos amigos" de "carteirinha". Aliás, quando citei a nossa diferença de idade, pretendia muito mais marcar a potencialidade que ele tem a desenvolver, ao longo dos anos que virão, do que alguma diferença "quantitativa" de informações adquiridas por mim em relação a ele... Isso é importante registrar!
Este post, entretanto, muito mais do que pretender responder ao comentário feito no blog, visa aprofundar um pouco mais o questionamento inicial de Alan, talvez até reforçando criticamente algo que ele já disse.
Vamos lá...
Lembrei-me de um outro "tête-à-tête" com o especial amigo Existenz. Falávamos de algum assunto - e eram tantos, que nem lembro exatamente qual -, até que, em dado momento, eu citei a primeira definição, do primeiro livro da Ética - "Por causa sui, entendo aquilo cuja essência envolve a existência, ou, por outras palavras, aquilo cuja natureza não pode ser concebida senão como existente"... a bem da verdade, eu duvido que eu tenha colocado as coisas de forma tão bem encadeada assim, mas conto com a compreensão, por parte do amigo Existenz, quanto à minha falta de memória fotográfica no que diz respeito a citações, Entretanto, ele logo "gritou": "Mas esse conceito de causa sui é incompreensível! Afinal, se algo é causa, não poderá ser de si mesmo, já que teria que ser causa do efeito que ele mesmo é". Dei sorte de ele não ter problematizado o par "essência e existência" - pelo menos, não dessa vez, já que isso aconteceu em diversos outros colóquios.
Apesar de esse ser um diálogo à moda platônica, onde o autor - no caso, eu - "moldo" um pouco o discurso dos participantes de acordo com o interesse do que é exposto, o fato é que o perspicaz Existenz parece ter caído, também, nas tramas ardilosas da "causalidade" - logo ele, que critica tão veementemente o "determinismo" - ao estilo do senso comum, que sempre espera um efeito antecipado por uma causa. No limite extremo, entretanto, alguém terá que "ceder" e admitir um "efeito incausado". Aliás, Spinoza dá isso como uma definição, portanto, além de pressupor sua "evidência", propõe uma inquestionabilidade sobre seu "constructo" conceitual.
Fato é, voltando... e concordando com Alan, que realmente há a necessidade de uma certa "adesão" à estratégia proposta pelo autor-modelo, a fim de que possamos postular o "cargo" de leitor-modelo. Desta forma, mesmo um texto estritamente filosófico - como era o de Spinoza, que eu usei no exemplo - exige um certo grau de "comprometimento" com a estratégia proposta pelo próprio texto.
E aqui, eu paro, não porque ache que o tema tenha se esgotado, mas reconhecendo um "peso" na opinião do amigo Alan que não me havia ocorrido ao momento da primeira discussão.
Mas... a resposta ao ótimo comentário virá em breve...
Um comentário:
Olá Ricardo. Não me lembro exatamente desse texto que está se referindo, talvez só me remeta a alguma vaga familiaridade, e que parece sair de uma etapa de nossa conversa que se deu mais nas nossas primeiras cartas. De qualquer forma, o que compreendo do que eu mesmo falei nesse caso (que acredito, foi colocado de forma fidedigna no seu post, acho que realmente deve ter sido mais ou menos isso que eu disse) foi de uma impossibilidade lógica, afinal, um efeito que não possui causa anterior a si mesmo me parece, em si mesmo, contraditório, incongruente, ou, pelo menos, absolutamente impensável, mesmo para mim, que acredito que alguns dos melhores pensamentos filosóficos se desenvolvem, de alguma forma, no paradoxo. Porém, não vejo esse caso como um paradoxo rico de sentido, mas como uma idéia completamente sem sentido, no sentido de um texto que não possui significado (como seria a frase “galinhas espinozianas amarelam a trigonometria do Papa alimentador de remédios”). Acharia interessante, então, ouvir uma explicação lógica não “senso comum” para tratar dessa questão da relação necessária entre “causa e efeito”, pois, até agora, não concebia como possível fazer da forma do qual está colocando (mas nada de muito profundo, afinal, não tenho a pretensão que escreva nada mais do que algumas frases, principalmente por causa da complexidade da questão e do espaço que há aqui).
Um abraço.
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