Hoje, lendo o caderno "Prosa & Verso", do jornal O Globo, acabei me deparando com os comentários sobre o mais recente livro do neurocientista português António Damásio, entitulado "E o cérebro criou o homem", publicado pela Companhia das Letras.
É difícil esquecer que este senhor já nos brindou com o maravilhoso "Em busca de Spinoza" - aliás, tenho cá minha edição portuguesa, sob o título "Ao encontro de Espinosa - as emoções sociais e a neurologia do sentir". Uma curiosidade que comprova o sucesso do livro, que constato simplesmente a partir das informações internas, é que, lançado em novembro de 2003, ainda no mesmo mês saiu sua 4ª edição. Tenho a 5ª, publicada em dezembro de 2003.
Além deste, também escreveu "O erro de Descartes" e "O sentimento de si".
Mas voltemos ao livro mais recente.
O jornal apresenta a seguinte ideia: "Neurociência avança no estudo da consciência e se aproxima de questões filosóficas".
É fato que qualquer um que se dedique à Filosofia da Mente, hoje, terá que "encarar" a neurociência. Mas... é necessário, sempre, o cuidado de não transformar Filosofia em Ciência. Aliás, é um cuidado que devemos ter sempre presente. Eu mesmo, quando li o livro a respeito de Spinoza, empolguei-me "excessivamente" com o "endosso" científico dado ao nosso querido luso-holandês. Passado algum tempo, continuo adorando a perspectiva de que Spinoza pode ter tido intuições filosóficas que, hoje, podem ser cientificamente comprovadas, mas não deixo de registrar que não ache que sua filosofia tenha necessariamente que passar por esse crivo científico para ser considerada válida.
De qualquer modo, vale à pena a leitura dos dois textos que foram publicados pelo jornal: uma entrevista com o cientista e um pequeno artigo da professora Maria Cristina Franco Ferraz.
Purificados de alguns preconceitos, acho que podemos ver nas duas posições grandes contribuições à nossa reflexão.
Damásio sugere que Filosofia/Psicologia e Biologia/Neurociências são campos de conhecimento complementares, mas com barreiras rígidas entre eles, e que sua intenção é promover o diálogo entre esses campos.
Perguntado sobre os possíveis atritos entre as diversas posições, Damásio acha que eles advêm dos métodos, principalmente, pois "da perspectiva de artistas e filósofos, a objetividade científica pode parecer redutora". Particularmente, não sei se haveria como não ser redutora, mas...
Fiquei curioso em saber como o texto trata o que o entrevistador chama de "pontos centrais do livro", que dizem respeito ao "estudo de como o cérebro constrói a mente e como torna essa mente consciente", visto que Damásio diz que "obtivemos uma série de progressos" quanto a isso, mas reconhece que "ainda há questões em aberto".
Ao final da entrevista, Damásio parece abrir o diálogo com o texto que vem a seguir, da professora Maria Cristina, visto que ele afirma que fica "desapontado quando dizem que a neurociência reduz tudo ao cérebro e a circuitos nervosos" e que "não se pode isolar o cérebro disso tudo [afetos, relações sociais, a justiça, a política, a economia]. Não é vantajoso neurologizar todos os problemas que temos".
O texto que se segue tem o título de "O mal-estar na 'cultura somática'".
Nele, a professora cita o livro "O erro de Descartes", indicando que "esse 'erro' consistiria na compreensão do humano baseada em dualismos empedernidos: a cisão entre o corpo e algo que não seria corpo - quer se denomine alma, espírito ou mente" e assinala que "o problema é que a tentativa da ultrapassagem dos dualismos [...] exige a mudança radical do próprio conceito de 'corpo', sob pena de se manter tributária do 'erro' que pretende corrigir". Realmente, é um cuidado que se deve ter.
Afirma ainda que "a somatização do 'eu', disseminada midiaticamente, produz novas 'verdades' assumidas de modo irrefletido, na medida em que são caucionadas pelas neurociências e ancoradas no poder de persuasão permitido pelas tecnologias de imagem cerebral". Novamente acerta, a professora Ferraz, quando chama atenção para essa "adesão cega" às verdades científicas, principalmente pelo leigo, visto que o cientista, da mesma forma que o epistemólogo, não tem mais essas ilusões quanto a "verdades absolutas" produzidas pelo seu saber.
No entanto, a professora parece reforçar o desapontamento do cientista, quando fala da "tendência à redução de todo o campo do vivido à atividade cerebral espetacularizada em neuroimagens, dispensando a narração" e que "quando o mal-estar é reduzido ao mau funcionamento da materialidade do corpo, o sujeito apto a narrar suas experiências e a elaborar traumas e lutos se emudece", pois acusa de reducionismo radical à neurociência.
Em minha opinião, a mente, em alguma medida, pode continuar sendo "suportada" materialmente, mas gozar de certa autonomia. Não seria possível, então, reduzir suas operações ao suporte material, mas também não seria correto dispensar as considerações sobre este, no que concerne às atividades da mente.
De qualquer modo... outra sugestão de leitura fica dada. Segunda-feira, compro o meu exemplar.
Um comentário:
Bem aqui em casa compramos o globo somente aos sabados e domingos, e o meu de ontem nao veio com o caderno prosa e veros, bem só adquirimos o jornal no sabado por causa da coluna prosa e verso no meu caso e do caderno ELa para a minha esposa, o chato de tervindo sem o caderno é que eu só percebi ao fim do dia ,depois que a banca estava fechada, entao nao tinha como reclamar, entao na próxima semana estarei atento a falta ou nao do caderno,heheheheehehe, tipo de comentario inútil, o que interessa saberem que eu nao recebi o caderno prosa e verso no meu jornal,hahahahahaha, deve ser falta sobre o que escrever,hahahahahahahaha.
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