Sabemos que o bigodudo Nietzsche tratou do "eterno retorno [do mesmo]" sem dizer que esta ideia já estava presente na Antiguidade, com uma força autoral bastante significativa no Estoicismo. É lógico que todos os nietzscheanos dizem que o conceito estoico não é tão elaborado quanto o do alemão, e que, se neles a percepção é meramente cosmológica, no do bigodudo há ares éticos, principalmente. O fato, entretanto, é que a intuição estoica é bem forte, e parece reivindicar mais originalidade que a do alemão.
Uma coisa que sempre se diz - ou seria melhor escrever "que os nietzscheanos sempre dizem"? - é que a concepção estoica é fatalista demais, e que só resta ao homem seguir resignado esse retorno do mesmo. Eu sempre caí nesse engodo. Mas, eis que lendo do De vita beata, ou seja, o Da felicidade, de Sêneca, me deparo com a seguinte passagem: "Só a virtude pode chegar lá, passo a passo dominará o caminho, mantendo-se firme, suportando todos os imprevistos, sem resignação, mas com alegria, consciente de que as adversidades da vida fazem parte da lei da natureza" (Grifo meu).
Percebe-se, portanto, que, além de usurpar o conceito de "eterno retorno" dos estoicos, o alemão também acabou tomando deles algo que poderia ser comparado ao "amor fati", afinal é isso o que o tal "sem resignação, mas com alegria" parece sugerir.
Esse tal de Nietzsche é bem espertinho, mesmo!
8 comentários:
É facil perceber isso, pois o Nietzche foi buscar sua inspiração lá na antiga grecia. Então o Nietzche pode até ter dado uma nova roupagem as ideias, mas originalidade, com certeza foi pouca.
Calma, Marcos... também não é assim!
Não sou o melhor cidadão para falar de Nietzsche, visto que minhas leituras dos seus textos sempre foram muito seletivas. Mas... dizer que ele foi buscar inspiração na Grécia tem que ser uma afirmação refletida. Senão vejamos: qualquer pensador sério continua refletindo sobre problemas que foram colocados pelos gregos - mormente por Platão e Aristóteles, mas não só. Nesse sentido, a "inspiração" sendo a discussão de temas originalmente postos pela Antiguidade clássica, então todos nos inspiramos na "Antiga Grécia". Mas... temos que lembrar que Nietzsche via a decadência do pensamento ocidental justamente como tendo surgimento em Sócrates e Platão. Não sei, então, se "inspiração" seria o melhor termo para a relação de Nietzsche para com a Antiguidade Clássica.
Porém, podemos pensar juntos.
Grande abraço, e obrigado pela participação!
tem escrever um livro com esse achado "Nietzsche plageia os estóicos", creio q deleuze tem uma outra visão do eterno retorno...
Felipe, falar em "plágio" é meio "forte", principalmente tratando de Nietzsche, que era um pensador original até demais. Rsss. Mas eu não nego que ele dê menos crédito do que deveria a alguns pensadores anteriores a ele. Além disso, não sei até que ponto ele se dedicou profundamente a entender o pensamento que lhe precedeu. Falo isso porque, especificamente no caso de Descartes e Spinoza, tenho certeza que ele não se dedicou a lê-los com o cuidado que mereciam.
Obrigado pela participação.
Grande abraço.
Estoicismo
Mude o que você pode
E esqueça o resto
Comece a viver
E seja consigo honesto
Você nunca estará morto por dentro
Então vá fundo
Em busca de si mesmo
Amar seu destino
É lembrar-se que um dia morrerá
E que não poderá ter tudo
E que é muito fácil errar
Mas é fácil também voar
Se elevar
Ser muito menos denso que o ar
E muito menos tenso para amar
Mas a minha maior intenção
Não é ser feliz
Mas sim verdadeiro
O homem ama a paz
Mas a vida ama o guerreiro
E não é exagero
Dizer que tudo isso é passageiro
Efêmero
Assim como o primeiro raio de sol
Acaba com o maior dos nevoeiros.
Igor Grillo
Uma poesia é sempre bem vinda. Ainda mais quando se encaixa no tema. Obrigado pela preciosa contribuição Unknown... e Igor Grillo.
Niezstche sempre foi muito controvérsio e isso não é de hoje. Não é difícil encontrar contradições em seus pensamentos principalmente se comparando sua fase juvenil até quando ele já estava mais velho (antes, é claro, de enlouquecer), mas ele próprio e os fãs do mesmo preferem enxergar tais contradições como uma espécie de renovação, mas como explicar todas as críticas que ele fazia ao pensamento da antiguidade clássica enquanto usufruia da filosofia antiga para a construção do próprio pensamento?
Nietzsche foi um grande plagiador. Vontade de potência tirou do Schopenhauer. O resto, dos estoicos, do Montaigne, do Pascal, do Santo Agostinho, Rousseau, sem falar do seu amor recalcado por Platão.
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