terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O simbólico e seu oposto

Se alguém perguntar qual é o oposto de "simbólico", dificilmente se responde que é o... "diabólico". Entretanto, se pensarmos na etimologia desta última palavra e na imagem a que nos remete a primeira, a coisa pode mudar.
"Diábolos", em grego, significa "que desune", entre outras coisas. De certa forma, enquanto o "símbolo" reúne em um só "significante" vários "significados" - fazendo uma espécie de síntese de conceitos - o "diábolos" realiza o inverso, desfazendo (esmiuçando, por assim dizer) os vários significados de um significante - ou seja, faz uma análise.
Da mesma maneira que falei sobre o "impressionismo" da poesia, em comparação com o "barroco" da filosofia, e sobre a perda de "definição" poética, em comparação com a maior "resolução" filosófica, poderíamos dizer que o simbólico, ao fazer uma reunião de diversos conceitos em um signo só, ao mesmo tempo em que facilita o acesso a esses conceitos, permite apenas que eles sejam vagamente percebidos. Quando o diabólico entra no circuito, ele analisa o conjunto conceitual destruindo, de certa forma, a facilidade de acesso, mas revelando uma especificidade maior dos conceitos individuais.
As vantagens críticas desse empreendimento "diabólico" - no sentido etimológico - são óbvias; já que esse procedimento torna mais "claro e distinto" - como diria Descartes - os diversos conceitos em questão. Por outro lado, traz à tona as possíveis tensões internas daquele signo único, que abriga diversas individualidades conceituais.
Para o dogmatismo - como era o da Igreja católica na Idade Média... nem vou dizer que ainda é -, o criticismo trazido por essa "exposição" das "víceras" do símbolo, pode ser ruim. Por esse motivo, o "Diabo" ficou tão mal falado pela Igreja. Afinal, no Antigo Testamento, só temos a presença do "Satã", que, em grego, é nada mais do que o "adversário"... de Deus.
Há que se perceber, além da Filosofia, um outro método altamente "diabólico": a psicanálise. Afinal, a linguagem do inconsciente só é exposta através do símbolo - não esqueçamos que Freud disse que a "via régia" de acesso ao inconsciente era o sonho... completamente simbólico. E o que faz a "análise"? Faz justamente o que o nome diz: "separa" as representações conjugadas no sonho-símbolo. Aí está mais um "Diabo"! Esse, aliás, muito consultado, na pessoa dos seus "mensageiros", os psicanalistas-diabólicos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom post. Obrigado! Comentei para você saber que sim, há leitores interessados. Vou ler os outros do blog.

Ricardo disse...

Obrigado, amigo... Anônimo. Rsss. Leia o que interessar. Escrever um blog é como registrar as coisas num diário, mas, neste caso, momentos que se quer compartilhar com amigos.
Abração.

Fagner Lopes disse...

Muito esclarecedor!

Letícia disse...

Parabéns👏👏👏. Muito bem explicado. Post super interessante e útil. Obrigada!!!

Anônimo disse...

Simbólico e naobólico kk