Kolakowski afirma que "muitos, mais instruídos do que eu, tiveram dificuldades em entender o sentido exato... [das] frases que se salvaram do poema ... no qual Parmênides desvelou sua metafísica".
Apesar da modéstia do filósofo polonês, acho que poderíamos concordar até se ele afirmasse que quase ninguém entendeu o "sentido exato" do que disse Parmênides.
Quem sou eu para perscrutar pensador tão denso e enxergar, com clareza, o que ele teria dito? Mas... por outro lado, se não nos debruçarmos sobre desafios dessa monta, nunca sairemos daquele "basicão" filosófico. Então, ouso algumas reflexões sobre o eleata.
Inicialmente, vamos encontrar uma percepção monista, que poderia, em certa medida, aproximar-se daquela do querido Spinoza. Boa, Parmênides!
Mas o grego, ao contrário do holandês mais coerente, irá impor uma finitude ao Ser que, estranhamente, acaba por limitá-lo, confrontando-o necessariamente com algo que não é o próprio Ser. Não seria isso, então, o reconhecimento tácito da existência do não-Ser?
Spinoza tem solução mais perspicaz, ao caracterizar a Substância como infinita.
Fora essa pequena - apesar de importantíssima - diferença, o que mais dificuldade causa na interpretação do pensamento parmenídico me parece ser a participação da multiplicidade no ser único.
Spinoza, novamente de modo ímpar, sugere transformações modais na Substância, que permitiriam falar do múltiplo, ainda que, no todo, nada deixasse de ser a própria Substância. Ou seja, a multiplicidade modal faria parte da unidade, pois os produtos seriam imanentes ao "produtor".
Aqui começa uma dificuldade, em Parmênides, que - mesmo reconhecendo minha total incompetência para esclarecer ponto tão profundo - parece ser fadada à inexplicabilidade: se só existe o Ser - sem movimento ou transformação alguma -, como se pode falar em homens que, ignorantes, confundem o Ser e o não-Ser? Esses mesmos homens já não são algo que o Ser não é?
Depois eu continuo...
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