A última edição da revista "Cult" trouxe uma entrevista com o "fantástico" filósofo André Comte-Sponville. Antes da entrevista, propriamente dita, há uma série de informações sobre o filósofo.
Está lá...
"Na contra-corrente de escritores populares que tematizam o problema da religião no mundo contemporâneo, mas que participam de uma cruzada radical e militante pelo ateísmo - figuras como Michel Onfray, Christopher Hitchens e Richard Dawkings - Comte-Sponville opta pelo meio-termo e defende o "ateísmo fiel", uma espiritualidade forte porém contrária à idéia transcendente de Deus, uma espiritualidade guiada apenas pelas virtudes e pela sabedoria da tradição filosófica cética e humanista".
Primeiro ponto interessante, que distancia Sponville de um "fundamentalismo" ateísta, como o de Dawkins.
A introdução continua...
"Para o filósofo, o saber filosófico deveria superar a crença religiosa, inclusive em sua dimensão espiritual, o que não implica aversão à religião nem queda no niilismo. 'A laicidade não significa ódio às religiões, ao passo que o niilismo, em seu esvaziamento ético, conduz à idolatria mercantil e à violência', diz o pensador".
Importante destaque sobre o não "ódio às religiões", compreendendo que a religião é uma dimensão da sociedade e que odiá-la corresponde a odiar aquela parcela da humanidade que a vivencia. Além disso, Sponville mostra que ateísmo não leva necessariamente ao niilismo e ao "esvaziamento ético", como postulara Dostoievsky.
Em relação à acusação de ser um "nouveau philosophe", autores dos anos 70 e 80 que popularizaram caricaturalmente a Filosofia, ele diz "Sou um filósofo antigo: procuro pensar à maneira dos antigos, especialmente Epicuro e Espinosa, para resolver problemas atuais".
Nem preciso falar do "saboroso" destaque ao "padrinho" Spinoza no filosofar de Sponville.
Na última parte da introdução, a revista destaca "sua temática principal: a renovação da espiritualidade e de uma felicidade ancorada na lucidez dos antigos".
Como eu já afirmei, a felicidade é um dos meus assuntos filosóficos prediletos, ainda mais quando fundamentada em bases lúcidas. Daí, portanto, uma das razões para minhas constantes idas à fonte sponvilleana. Além disso, a "renovação da espiritualidade", como reconhecimento dessa dimensão humana - além da racionalidade e da base instintual - e como tentativa de integrar essa espiritualidade à totalidade do homem, sem que seja necessário ser um "crente cego" dentro da igreja e um "homem da razão fria" fora dela é algo que me atrai em Sponville.
Já dentro da entrevista, aproveitando a "ponte" com alguns dos últimos posts, Sponville comenta a crise financeira internacional, dizendo "Quanto à crise econômica atual, ela não é a primeira nem a última. Não se trata do fim do mundo, nem do fim do capitalismo. Por mais grave que seja, a crise vai passar, até chegar a próxima. De todo modo, essa crise confirma mais uma vez que o mercado necessita de limites externos, que os Estados são fundamentais para impor tais limites (que hoje chamamos de "regulações")". E emenda, com uma constatação real e triste "O que não passará, pelo menos nos próximos decênios, é a anunciada catástrofe ecológica... O que também não passará, ao menos não no curto prazo, é a crise cultural, moral, espiritual do Ocidente. Afinal, o que ainda pode oferecer ao mundo uma sociedade que não acredita em mais nada além do dinheiro e do sexo?".
Essa nossa "crise moral" é problemática mesmo.
Depois eu mostro mais...
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