quinta-feira, 16 de abril de 2009

A "Angústia" heideggeriana

O compadre Mundy colocou um comentário sobre o último post, onde dizia que, apesar de não conhecer bem Heidegger, tinha lido uma frase sua: "A angustia é disposição fundamental que nos coloca perante o nada" e queria entendê-la melhor.
Lanço-me nessa aventura de "esmiuçar" a frase, contando com a ajuda no nosso novo amigo Júlio, mais conhecedor do que eu do pensamento do alemão, e de quem mais quiser auxiliar.
O conceito de "Angústia" em Heidegger é muito importante. A "Angústia" - que não deve ser confundida apenas com aquela psicológica, já que a de Heidegger é mais "profunda" - é fundamental para o homem sair do que ele chama de "existência inautêntica" rumo à assunção de sua "autenticidade".
Por outro lado o "nada" heideggeriano não é simplesmente o contrário de "algo". Aliás, uma advertência: Heidegger torce e retorce as palavras até que elas tomem significados absolutamente heideggerianas... o que, por vezes, é muito problemático, porque nos enganamos com o que pensamos ver, não alcançando o que ele viu.
Mas voltando...
Heidegger chama "nada" - num dos sentidos possíveis em sua leitura -, ou mais especificamente "nada da vida", à absorção da vida (singular) no mundo à sua volta. Isto é a própria inautenticidade do homem.
Juntando tudo... entendo que na frase em questão, Heidegger mostra que a "Angústia" nos coloca diante da percepção de que estamos vivendo uma vida que não representa as nossas possibilidades plenas, uma vida que se vive para os outros - segundo as regras deles e necessitando da aprovação deles -, em resumo, uma vida inautêntica. A partir de então - e aqui está a "positividade" da Angústia heideggeriana -, podemos passar a nos percebermos como individualidades com projetos e possibilidades próprias, não guiados mais pelo "impessoal".
Já dá para comentar algo, compadre? E, Júlio, acertei no alvo ou passei longe?

5 comentários:

mundy disse...

Bem compadre, sabes que confesso minha pequenez diante de pensamentos tão profundos e argumentos , é importante salientar que a pequenez em questão se deve aos meus parcos conhecimentos dos pensadores e filosofos, não sou avido leitor como o amigo e outras pessoas que frequentam seu espaço e até o meu blog, me atenho infelizmente para mim, a pesquisar algo que acho interessante , quanto instigado pelo amigo, não tenho paciencia para ler tanto, e repito é uma pena,mas quando citaste Heidegger, movido pela curiosidade de um bom geminiano, fui a internet pesquisar frases do mesmo, e essa me chamou a atenção, pois mesmo que não a tenha interpretado como o Amigo , ela casou com o que vivo, pois hoje encontro me numa posição que a Frase casa comigo, não sei se sou um existencialista, pois nunca me aprofundei , meu conhecimento é pouco, li a Nausea de Sartre, mas faz mais de 20 anos e nem me lembro do que dizia o Pensador Frances, mas aí é que interessante, pois apesar de não ter paciencia para ler livros inteiros, falha gravissima, tenho a internet que me ajuda a não dar uma de bobo, leio o que me apraz e sinto me um pouco ligado ao Amigo, não tenho a pretensao de ser um culto pesquisador como o nobre, sou ansioso demais, exemplo disto dou vários, mas o mais recente fui ontem a uma faculdade de Niterói, e pesquisei sobre um curso, quando me informaram que a duração é de cinco anos, desisti, pelo meu jeito estou mais para fazer um curso destes de 2 ou 3 anos, minha impaciencia não faria que eu chegasse ao fim d eum curso de 5 anos, nem sei por que falei disto, hehehehehehee, mas voltando, no pouco que li das frases de Heidegger,parece ser muito interessante,quem sabe tomo coragem e leio algo mais completo, por enquanto fico babando pelo seu conhecimento e do agora novo seguidor Julio, tenho muito a aprender com vcs, então como um aluno preguiçoso espero colher boas questoes por aqui.
Sei que não acreditas em muitas coisas, assim como eu, mas aconteceu algo muito interessante, estava respondendo no meu Blog a Heloise e do nada falei que iria escrever para nós uma frase de FRanz Kafka, bem vc sabe que eu não conheço nada dele, alias eu nao conheço nada de Pensador algum, mas já que do nada saiu que ia escrever uma frase do Kafka, fui ao google e pesquisei e olha só a frase que coloquei no meu blog em resposta a amiga Helo"O Tempo é teu capital, tens de o saber utilizar, perder tempo é estragar a vida."
Bem sei lá de onde surgiu na minha mente o nome do Kafka, mas que a frase tem muito a ver comigo neste momento que passo , tem a haver, só falta ser um sinal, hehehehehehehehehehehehe.E aí o que achas ?

mundy disse...

Bom dia , a gente comenta né, mas quer ler a tréplica, hehehehehehehehe, este negócio de escrever e não ter resposta, é ruim pacas, hehehehehehehehehe.

Júlio disse...

Me senti bem-vindo ao blog, mesmo com as restrições ao meu time. Enquanto espero ser campeão vou escrevendo minhas opiniões sobre filosofia. Campeão, não! Tricampeão! E 31 campeonatos!
Não posso dizer que sou um especialista em Heidegger, mas sou um grande apreciador dele.
A frase do Mundy e as idéias do Ricardo tocaram num ponto chave do pensamento de Heidegger, a angústia. A angústia individual surge na filosofia com as reflexões de Kierkegaard, iniciador do existencialismo. Esse conceito vai transpassar o existencialismo com outros nomes, como a náusea de Sartre e o absurdo de Camus. Todos esses termos querendo dizer algo como 'sem sentido dado'.
Ricardo analisou bem quando relacionou a angústia como caminho para a autenticidade. A frase que o Mundy trouxe vai justamente comprovar isso. A angústia se apresenta no momento em que o homem percebe que está apenas sendo uma peça de uma engrenagem e não uma existência realmente humana.
É claro que podemos dar um sentido mais psicológico à frase. Heidegger pode ter partido disso. Podemos pensar que um estado emocional desconfortável (uma 'angústia' no sentido comum) nos coloca diante de um vazio existencial que pede uma solução. Como essa solução é uma ação, só saímos de uma enrascada fazendo um projeto e agindo.
Vou dar um exemplo. O Flu perdeu pro meu Fla. Bateu uma angústia no clube. Os dirigentes viram que não existe quem trema antes de nada pois não há determinação alguma na vida. Eles precisam fazer um projeto e agir para não ir para a segundona outra vez.

Ricardo disse...

A contribuição do Júlio foi ótima. Só não gostei do exemplo do Flu... até porque perdemos ontem para o Águia. Que time é esse, hein, compadre?
O Heidegger, como eu disse antes, é muito utilizado pela Filosofia Clínica. Imagino que seja justamente pela abordagem da assunção da própria existência como projeto singular. É fácil culpar os outros e as circunstâncias, difícil é tomar a própria vida nas mãos e fazer dela... ou de nós mesmos algo original e verdadeiro.
Heidegger, talvez, dissesse algo como “é fácil ser impessoal, difícil é ser você mesmo”. Isso me lembra vagamente a “individuação” de Jung. Mas será que tem a ver mesmo? Rsss.

Anônimo disse...

existem palavras...
que tem um significado todo doloroso e especial...
a Angústia..
o Ser...
o Nada...

Beijos
Leca