Ao contrário do "rótulo" de racionalista, Spinoza prezava muito a intuição como forma de acesso ao "inefável". Em homenagem a ele - um "racionalista afetuoso" - deixo registrada uma poesia de Cecília Meireles que, talvez, expresse algo do ser-para-morte de Heidegger e da "sobre uma espécie de eternidade" do próprio luso-holandês.
"Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno."
Cecília Meireles, Cânticos, VI.
Um comentário:
Ricardo, achei legal a expressão "racionalista afetuoso" que vc deu ao Espinosa (ou será que devo escrever Spinoza? Já que o blog é seu, vou começar a escrever só Spinoza).
Gostei muito do poema. Essa Cecília Meirelles é demais!
Por falar em gostar: até o formato do poema é legal, parece uma garrafinha. Será que foi de propósto?
Eu gostei da parte que fala da renovação todo o dia. E adorei a observação de que morremos e nascemos em atos parecidos, como o amor e o desejo. Isso é verdade.
Já que para Heidegger somos sempre ontológicos e ônticos ao mesmo tempo, é possível, como fala o poema, não ter medo de morrer?
Sds, Julio.
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