Após ter lido o ótimo "Analítica do Sentido", de Dulce Mára Critelli, que, apesar da ênfase na interpretação fenomenológica do mundo, faz uma comparação esclarecedora com a interpretação metafísica tradicional, passei à leitura de "Existencialismo - uma reflexão antropológica e política a partir de Heidegger e Sartre", de Anna Maria Laporte e Neusa Volpe.
A problemática que serve de ponto de partida do primeiro livro, qual seja, a comparação entre as abordagens metafísica tradicional e fenomenológica quanto à compreensão do ser, ainda está ecoando em minha cabeça... e, provavelmente, servirá de inspiração para posts futuros.
O segundo livro vem bem na hora em que estou cursando "O homem? Um problema para todos os tempos". Aliás, haverá uma aula justamente sobre Heidegger e Sartre pensando o homem, através do Existencialismo.
Lido um terço do livro, dá para perceber como o assunto é bem desenvolvido. O livro começa situando o Existencialismo historicamente, considerando-o iniciado - como a maioria dos autores faz - por Kierkegaard, que teria trazido "ao cenário filosófico as questões do homem concreto, enquanto indivíduo existente... Frente aos problemas objetivos, formais e impessoais, chamou a atenção para a angústia imanente do próprio existir humano. Existir angustiado porque engloba as possibilidades de escolha da própria existência, ressaltando a grande questão humana - a questão da liberdade".
O livro destaca que "o alerta pelo resgate humano permaneceu adormecido até o período sacudido pela Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Esse genocídio, em particular a Segunda Grande Guerra, implodiu todos os valores sedimentados pela cultura ocidental".
Isso me faz pensar em todos os dramas quotidianos a que temos assistido no mundo, que marcam vigorosamente a falta de valores na sociedade atual, e questionar se não seria hora de "reviver" um pouco o Existencialismo. Será que as Filosofias pós-existencialistas realmente deram conta de responder o que o homem está se tornando? Será que o Existencialismo está totalmente morto, mesmo?
Voltando ao livro...
A parte que vem a seguir, no livro, mostra o Existencialismo e sua relação com o método fenomenológico. Vem, depois, uma análise sobre "o que é o mundo", onde consta o entendimento de Heidegger sobre a "Physis" grega, comparada com o "mundo técnico" do Ocidente. O capítulo seguinte aborda a perspectiva essencialista do homem (advinda da tradição) e a do homem como processo, destacando o inacabamento do homem, e por isso a ausência de uma "essência", no sentido da tradição. Nesta parte, comenta-se a critica de Heidegger à afirmação de Sartre de que, no homem, "a existência precede a essência": "Para Heidegger, Sartre, ao inverter a formulação metafísica, continuou metafísico, porque 'existência' continuou sendo conceituada como 'atualidade' e 'essência' como possibilidade, caminho seguido pela história metafísica do Ocidente".
Eu não sou o maior defensor de Sartre, mas há que se considerar que Sartre faz essa afirmação em uma palestra - que depois se transformará no livro "O Existencialismo é um humanismo" - que é uma tentativa de explicação "popular" do assunto, bem como uma apologia do Existencialismo, frente às acusações da sociedade da época. Talvez não se possa cobrar um rigor técnico excessivo na obra. Mas, é verdade, que o livro foi muito divulgado, cabendo algum reparo se essa interpretação fosse "errada demais".
Voltando ao livro... Cheguei à parte onde serão feitas consideração sobre o tempo. Depois eu conto mais.
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