Há algum tempo disse que estava "namorando" com a Estética e que, em breve, postaria alguma coisa sobre o assunto. A bem da verdade, minha investigação estagnou-se... questão de prioridades... como tudo na vida. Entretanto, não queria deixar de registrar uma leitura que aborda um tema bastante interessante nessa relação entre Filosofia e Arte: a oposição de Platão à arte.
O texto a que farei referência faz parte do livro cujo título é o mesmo deste post: "Os filósofos e a arte". A organização é de Rafael Haddock-Lobo e a publicação é da Editora Rocco. Há textos tratando da arte envolvendo Kant, Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger, Merleau-Ponty, Deleuze, Derrida e outros, produzidos por diversos pensadores brasileiros.
Um desses textos é "Platão contra a arte", produzido pelo professor-doutor Fernando Muniz. Apesar de suspeito para efetuar juízos sobre materiais produzidos por esse magnífico professor, visto que já tenho um "preconceito"... positivo em relação às suas ideias, tendendo a achá-las brilhantes antes mesmo de as ler, tentei desvencilhar-me desses tais pré-julgamentos. Mas, ainda assim, o que aconteceu foi uma mera confirmação dos "preconceitos positivos": o texto é ótimo. E é ótimo porque, além de enfrentar o problema posto pela opinião platônica - ao contrário de outros que tentam "minimizar" seus efeitos -, não se limita às análises óbvias, que já vi em outros bons escritos, sobre a natureza mimética do ofício do artista. O professor Muniz trabalha não só esse aspecto - da mímesis -, mas também o de enthousiasmós - a inspiração - poética. Escreve Muniz: "Com a doutrina do entusiasmo, Platão retira dos poetas o direito de falar à Cidade em nome de um pretenso conhecimento; com a mímesis, ele caça a cidadania da própria poesia".
Mais interessante ainda, na análise de Fernando Muniz, é que esta não se limita ao famoso Livro X, da República - e da possível incoerência deste face aos Livros II e III, onde "Sócrates" indica mesmo a poesia como parte da educação dos jovens. É feita uma gênese dos motivos que levaram Platão à expulsão dos poetas da cidade ideal. E esses motivos são apresentados como pertencendo a vários dos diálogos platônicos. Está escrito: "Nos primeiros diálogos... a... exclusão da poesia já se manifesta de modo inequívoco. A visão predominante desse período é fornecido pela doutrina do entusiasmo, ou seja, a poesia entendida como resultado de intervenção divina. Dos diálogos do período mediano em diante, a mímesis substitui o entusiasmo".
E, para temperar mais ainda essa análise, Muniz inclui o Górgias, trabalhando o conceito de Kolakeia ("agrado"/bajulação).
Depois escrevo mais...
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