Em homenagem aos oitenta anos do nosso Ferreira Gullar, lá vai o seu existencial, estético, ético, metafísico, linguístico...
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
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