O título do post é o mesmo de um livro lançado recentemente pela Editora Papirus - Sete Mares.
O livro apresenta um diálogo dos filósofos brasileiros Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro. Ambos conhecidíssimos, eles dialogam sobre o tema Política. Como sempre acontece nos livros onde há a participação de Cortella, seja como autor, seja como debatedor, o nível é profundo, sem cair nas redes teórico-epistemológico-metafísicas (seja lá o que isso quiser dizer!) do rebuscamento desnecessário. Sobre esse modo de se expressar, talvez Cortella tenha ouvido a lição de Ortega y Gasset de que "a clareza é a gentileza do filósofo".
Mas, voltando...
A primeira informação interessante se refere à etimologia da palavra "idiota", que remete ao grego "idiotés", com o significado de "aquele que só vive a vida privada, que recusa a política". Ou seja, o "idiota", para os gregos, era aquele que não se importava em participar ativamente das decisões em sua comunidade... era uma espécie de "alienado", que não atendia ao chamamento básico da sua humanidade como "zoon politikon".
Ainda na linha de etimologia, Cortella cita o "domus" (latim), com o significado de "casa", para mostrar que não temos "domus", mas "con-domínios". Portanto, "viver é conviver, seja... no prédio, seja no país, seja no planeta".
Fica claro, desde o início do livro, que para "viver" - que é sempre "conviver" - é imprescindível um comportamento "político", ou seja, um comportamento que se interesse e cuide das relações que se estabelecem na "pólis", tenha ela a dimensão que tiver, seja um pequeno núcleo familiar, um prédio, um bairro, uma cidade, um país ou um planeta.
Cortella cita uma frase típica fixada em veículos de empresas - "Como estou dirigindo?" -, que viu ganhar um acréscimo inesperado: "Mal? Dane-se, o caminhão é meu!". Segundo ele "Essa lógica 'do caminhão é meu' significa 'eu faço o que quero, sou livre'. Ora, esse exercício da liberdade como soberania é algo que se aproxima da ideia do idiotés. Não sou soberano".
Pouco depois, ele mostra - etimologicamente, ainda - a diferença entre o "superanus" (latim), como "aquele que está sobre/acima de todos e não se subordina a ninguém", e o "autônomo" ("autós" + "nómos", do grego), como aquele que se regula por suas próprias normas... mas sempre entre outros "autônomos". Ou seja, há necessariamente um respeito, senão às normas "dos outros", pelo menos, aos outros.
E já que estamos no campo etimológico...
Cortella explica que a palavra "síndico" expressa a ideia de "syn" + "diké", ou seja, "alguém que se junta a outros para pedir justiça", em outras palavras, "o síndico é o representante de um grupo que vai agir para conquistar a justiça". Relacionada a essa explicação vem a ideia de que a participação, ou não, em uma reunião de condomínio é uma decisão política. Mas adverte, quanto a não participação: "Os ausentes nunca têm razão".
Depois escrevo mais...
3 comentários:
O livro é instigante, não vejo a hora de poder comprar; e gostei muito do seu resumo sobre o tema, muito obrigado!
não li ainda o livro mas, achei algo na internet que fiquei encantada em relação ao livro que fala tão bem no ser político e fazer politica.
Comprei e estou lendo. Muito construtivo. Vale a pena!
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