É com essa frase que começa a última coluna de Roberto Da Matta, em O Globo. Não que seja novidade que o ser humano é complexo - e, talvez por isso, complicado. Mas, se por um lado, esse aspecto multifacetado do ser humano, que dificulta sua apreensão conceitual, o torna "complicado". Por outro, é justamente essa estrutura "poliédrica" que valoriza sua, ou melhor, nossa existência.
Pascal, por exemplo, expôs muito bem esse quase paradoxo que é o ser humano. Aliás, num dos comentários mais recentes de nosso amigo Joaos, foi dito, inclusive, que Marx se preocupava com a inadequação da redução do homem a apenas uma das suas múltiplas facetas. E mais tantos outros pensaram esse ser "esquisito", tão infinitamente variado na sua simples finitude.
Mas, passemos ao texto de Da Matta.
"Tudo o que é humano é complicado; ou melhor: não pode ser simples senão não é humano. O humano é impreciso, enigmático, ambíguo, pérfido e, acima de tudo, espesso como os nevoeiros e as peças de Shakespeare. É, como as máscaras de carnaval e as cebolas, múltiplo; e tem caras, varandas, porões e infindáveis corredores. Tem também o abraço solar, a mão aberta e calorosa, o sorriso que cativa e o beijo apaixonado que promove a vida. Tudo nasce de uma mesma fonte da qual jorram igualmente ódio, inveja, coragem e ressentimento. O transitório que, para Freud e Thomas Mann, é tudo, promove a busca de consistência e do eterno. A saudade articula o instantâneo que é vida e a eternidade do nada. Os deuses nos invejam não só porque não existiriam sem nossas preces e oferendas, pois eles precisam de nós tanto quanto nós necessitamos deles, mas porque vivemos na transitoriedade e na dúvida do aqui e agora, do ser ou não ser e do você e eu que engendram tenacidade, desejo, amor, lealdade e honra".
Portanto, tudo podemos esperar desse "algo" sem lugar certo na natureza que é o "humano"... tudo de bom ou de ruim!
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