Interessante a ponderação de Foucault sobre a "dúvida cartesiana". Descartes se propôs, em função de seu método, a radicalizar intencionalmente sua dúvida. Para isso, foi duvidando, e duvidando, e duvidando. Conseguiu, como sabemos, duvidar até do seu próprio corpo, embora reconhecesse a sua existência.
Bem... disso, já sabemos. Mas, Foucault questionou a radicalidade da dúvida cartesiana, pois Descartes vai tirando suas conclusões sem, em momento algum, perguntar-se se ele estava mentalmente sadio. Ou seja, desconsiderando essa hipótese, Descartes fica sem a possibilidade de estabelecer o seu "ponto arquimediano", pois todas as suas conclusões podem ser falsas, não por estar sendo enganado por um "gênio maligno"/"Deus enganador", mas por estar sendo ludibriado pelo próprio "eu enganador".
Coitado do Descartes... foram tantos a descobrir seus "furos". Se bem que é sinal da qualidade de um pensador o fato de precisar ser "derrubado" tantos séculos mais tarde.
4 comentários:
vai ler filosofia, seu imbecil.
pensamento muito bem elaborado...
Acho que a desconsideração da loucura ocorre porque ela não pode ser afirmada por si mesma, quer dizer, o louco não pode afirmar que é louco pois lhe falta um meio racional para validar sua assertiva. Só algo externo à razão (ou outra razão) poderia detectar a loucura.
Eu tenho a impressão, porém, que loucura pro Descartes é algo perto do deus enganador, algo como "produzir evidencias contra si mesmo", mas eu precisaria pesquisar mais.
Bruno:
O problema é que o "eu" é o ponto de apoio para tirar Descartes da dúvida de tudo... inclusive de estar sendo enganado por um "outrem", que, no caso do "gênio maligno" é muito poderoso.
Se a sanidade depender da própria razão, ela estará, em tese, ausente. E se depender da de um outro, está-se submetido novamente à possibilidade de estar sendo enganado.
No caso em questão, eu discordo um pouco de você, quando aproxima a loucura do deus enganador. Isto porque o "eu-pensante" conseguiria escapar a este último, mas não ao primeiro. Portanto, concordo com Foucault de que a situação da loucura é ainda mais "hiperbólica" do que aquela do Deus enganador.
Mas... pensemos juntos.
Obrigado pelo comentário e abração!
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