Eu tenho me preocupado em registrar minhas ideias segundo a chamada "Nova Ortografia". Tenho ouvido reclamações por toda parte, mas isso é natural, visto que qualquer novidade implica um período de adaptação, no qual se faz necessário um esforço maior para assimilação da nova situação.
Entretanto, as coisas ficaram mais delicadas quando li que haveria uma espécie de "revolta" contra a adoção das novas regras e que, em Portugal, já há uma lista assinada por duzentas mil pessoas contra a reforma e "em defesa do próprio patrimônio linguístico". Aí, achei um certo exagero. Mas, quando falo isso, todos que conheço dizem que estou errado e, alguns, até afirmam que não utilizarão as modificações.
Felizmente, pude ler em O Globo, opinião diversa. Ufa... não estou sozinho! E quem escreve não é um sujeito qualquer, é Paulo Geiger, editor dos dicionários Aulete.
No artigo, Geiger diz concordar com o argumento de que "a língua é um organismo vivo, que se modifica de baixo para cima", mas faz a ressalva de que não se deve confundir a "ortografia" com a "língua". A língua será sempre mais "ampla" e mais "viva" do que a ortografia. Entretanto, é necessário um certo regramento - sempre impositivo, obviamente - que mantenha a "base", relativamente "fixa", sobre a qual a língua fará suas "piruetas".
Geiger ressalta três questões sobre as quais deveríamos pensar:
1) A conveniência dessa reforma - Essa é uma questão levantada em 1986 e, aparentemente, resolvida. Tanto é que os países assinaram a carta de compromisso para implementarem as novas regras.
Neste item, Paulo Geiger faz uma observação muito interessante sobre o fato de não estar em questão os aspectos "lusófonos", mas apenas os "lusógrafos".
2) O atendimento ao objetivo de unificação ortográfica - Ao ser vago e genérico e ao admitir mais de uma grafia, o Acordo reconhecidamente não atende às pretensões iniciais.
3) O preenchimento dos vazios - A Associação Brasileira de Letras não poderia sanar as deficiências natas do processo. A não coordenação com entidades similares em todos os países da lusografia, acaba por impedir a imaginada unificação.
Neste item, o autor faz outra observação interessante: "Daí a perplexidade ante a esdrúxula situação na qual o Brasil 'unificou' por decreto uma ortografia que está usando sozinho".
Paulo Geiger opina que "o Acordo não tem a pretensão de unificar a língua, seus usos e significados em cada país, região ou nicho de uso. Portanto, além de desnecessária, a defesa das particularidades da língua gera confusão ao se misturar com as justas críticas ao Acordo e sua implementação. A particularidade do uso da língua não está ameaçada, mesmo porque não há gramático ou lexicógrafo que consiga fazer com que a língua seja usada desta ou daquela maneira. A questão da ortografia é diferente".
E conclui que "mais factível e mais construtivo do que repensar do zero a reforma será partir da nova ortografia e, nos dois anos e meio oficiais de adaptação, corrigir (inclusive, e para começar, no VOLP), por meio do diálogo e consenso, o que for necessário ou conveniente corrigir".
Agora, cá entre nós, exceto pelo hífen, as novas regras não têm nada de tão problemáticas para nós brasileiros. E mesmo as regras do hífen acabarão por ir, aos poucos, com o uso, sendo assimiladas.
Abaixo a "Contrarreforma"!
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