segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"O cinema pensa"

Como eu já havia dito que iria fazer, em post recente, dei início à leitura de "O cinema pensa - uma introdução à Filosofia através dos filmes", de Julio Cabrera. Conforme também comentei, o livro permitia uma leitura relativamente independente dos diversos capítulos... e, para saldar uma dívida com meu amigo Júlio, pretendia iniciar pelo capítulo que se referia a Heidegger.
Para entender melhor o livro, entretanto, passei pelo Prefácio e pela parte introdutória do livro ("Cinema e Filosofia - para uma crítica da razão logopática"). E veio a surpresa! Em vez de uma mera reflexão sobre o tema principal dos filmes, sob uma óptica filosófica, há uma teoria "cinefilosófica" muito interessante sendo apresentada.
Aliás, parênteses aqui: tenho que agradecer essa descoberta ao empurrãzinho que a dívida com Júlio me deu. Afinal, não fosse isso, o livro ainda ficaria muito tempo para ser lido.
Mas, voltando...
O livro apresenta dois conceitos muito interessantes: o "conceito-imagem" e a "logopatia".
O conceito-imagem seria uma variação possível do conceito-lógico, construído pela Filosofia tradicional. O conceito-imagem se apoia na duração temporal das imagens apresentadas pelo filme, ao longo da apresentação de uma determinada situação, para criar "conceitos" que, em tese, poderiam também ser construídos ao longo do discurso de um texto. Aliás, o autor demonstra que dificilmente se faz Filosofia sem recursos imagéticos, mesmo que as imagens sejam construídas pelo filósofo com auxílio do seu leitor. A possível diferença entre o conceito-imagem e o conceito tradicional seria um apelo mais profundo à vivência, por parte do espectador/leitor daquilo que é construído, no caso da utilização do primeiro tipo de conceito. Segundo o autor "um conceito-imagem é instaurado e funciona no contexto de uma experiência que é preciso ter, para que se possa entender e utilizar esse conceito".
Quanto à logopatia, Julio Cabrera explica que a "racionalidade logopática" se opõe à "racionalidade (meramente) lógica". Desta forma, o logopático diz respeito a um entendimento que seja também afetivo, e não meramente argumentativo.
Importante, aqui, é destacar, como faz o autor que "o emocional não desaloja o racional: redefine-o". Ou seja, não estamos falando de desprezar o racionalismo, em prol de um "irracionalismo", mas de reforçar que já se racionaliza a partir de um fundo afetivo. Desta forma, a compreensão logopática é racional e afetiva ao mesmo tempo.
Em outros posts, poderia expandir esses dois conceitos, a fim de que eles fiquem melhor esclarecidos. Por ora, gostaria apenas de registrar que Julio Cabrera lista alguns dos filósofos "páticos" ou "logopáticos" - embora eu ache esse segundo termo melhor - e, dentre eles estão: Schopenhauer, Nietzsche, Kierkgaard e Heidegger - para felicidade, imagino, de nosso amigo Júlio... que não é o Cabrera. Rsss. Sobre estes, diz o autor: "Eles não se limitaram a tematizar o componente afetivo, mas o incluíram na racionalidade como um elemento essencial de acesso ao mundo. O pathos deixou de ser um 'objeto' de estudo, a que se pode aludir exteriormente, para se transformar em uma forma de encaminhamento".
O último registro é apenas a impressão de que Spinoza deveria constar dessa lista... e talvez, até, de encabeçá-la.
Prometo mais posts sobre o livro.

4 comentários:

Maria disse...

Voltei!!!
Estava doida para chegar a casa…Circuitos intermináveis, com guias , tudo direitinho sem testar uma única vez, o sabor da aventura não é o meu jeito de viajar.
A Turquia ficará marcada, na minha memória, por um país onde pulula a história, mas também , sendo uma país laico e democrata ,a religião é muito marcante , pejado de mesquitas e de vozes que diariamente apelam à oração e as mulheres, embora com todos os direitos, continuam arreigadas a tradições no mínimo humilhantes. Embora a grande maioria não se diferencie de uma qualquer mulher europeia, as ruas ainda eram pintadas com alguns pontos negros onde só os olhos, ou só o rosto era possível observar. O Guia disse várias vezes que eram estrangeiras vindas de países limítrofes como o Irão e o Iraque, mas mesmo assim sendo muitas turcas usavam lenços.
Bem, senhor Ricardo, mais uma vez a “furar” o tema. Apenas queria dizer que voltei e dar as boas vindas aos novos amigos do blog. Gongratular-me também com os reaparecimentos do Júlio, que são sempre “pincelados” de simpatia.
Reparei também que o senhor já entrou na Orkut, espero que esteja a gostar, eu ainda não me movimento muito bem por lá. Desconheço uma carrada de procedimentos, mas nada como o tempo para me adaptar.
E como dizia um actor aqui que faleceu há uns dias atrás “Façam o favor de ser felizes!”.
Maria

Ricardo disse...

Cara Maria:
Primeiramente, quero dizer que é ótimo ter-te de volta conosco.
Sobre a tua viagem, não posso esconder que estranhei ler "o sabor da aventura não é o meu jeito de viajar". Logo tu dizendo isso? Já me contaste algumas de tuas viagens, e sempre estiveste à vontade com o espírito aventureiro.
Sobre a Turquia, deve ser um país... aliás, aquela região toda, deve ser historicamente muito rica. No caso específico da Turquia, um limite à Europa - pelo menos enquanto não é incorporada à comunidade - deve remeter-te a vários marcos da História da civilização.
Falando em "enquanto não é incorporada", acho que um dos problemas é justamente a relgião estar num tipo de "domínio silencioso". De qualquer forma, mesmo que as burcas fossem vestidas, em realidade, por mulheres de lá, já seria um grande avanço essa convivência pacífica entre mulheres "burcadas" e outras sem essa vestimenta.
Bom regresso... e "sejamos todos felizes!"

Ricardo disse...

Ah... faltou falar do Orkut.
Não domino nada dessa "modernidade". Em realidade, minha intenção foi apenas ter acesso às comunidades. Essas, sim, me interessam... e já andei colocando algumas ideias lá.
No mais, só adicionei quem pediu. Mesmo colegas da faculdade, que vejo aparecerem como sugestões para inclusão, ficaram de fora.

Maria disse...

Mais uma vez o senhor está com carradas de razão. Claro que o sentido era esse mesmo o de gostar de viagens com alguma dose de liberdade, liberdade que não gozámos. Estava tudo milimetricamente programado…arght!!!
Uma maneira de testar a importância da pontuação. A virgula no lugar errado pode alternar o sentido da frase…Foi o que aconteceu. Felizmente o senhor já me vai conhecendo e captou…rs Então mude a virgula e ficará “tudo direitinho sem testar uma única vez o sabor da aventura ,não é o meu jeito de viajar.
Quanto ao Orkut, achava que era só e apenas as comunidades. Constatei pelas suas palavras que não. Fiquei a pensar no que mais será esse tal orkut.
Não entendi essa coisa que falou “No mais, só adicionei quem pediu”. Deve estar a referir-se aos amigos que tem. Como sou portuga e não tenho amigos lá no Orkut fico mesmo sem amigos, acha que fico mal? Rs Reparei que um dos seus amigos deve ser o seu filho. O garoto é muito bonito, parabéns! Mostrei a minha filha e para meu espanto ela disse” Mãe ,o Ricardo é muito mais bonito, tem um sorriso lindo!” …rs
Para mim também está a ser gratificante, pelo menos vou lendo, o que colocam de interessante, sobre teatro. Já coloquei alguns tópicos também, mas por vezes parece que falo outra língua e há quem não me entenda.
Maria