sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Kant e Spinoza

No Orkut - comunidade Spinoza/Espinosa - surgiu uma informação interessante sobre Kant. O grande prussiano escreveu na "Crítica da Razão Pura": "Quanto à filosofia de Spinoza, o despertar de meu sonho dogmático, ao ler Hume, não foi suficiente para compreender e refutar a profundidade do conhecimento e da verdade no sistema filosófico racionalista de Spinoza, ficando, então, para as gerações futuras descobrir as implicações dessa doutrina filosófica tão intrigante e bela".
A minha impressão foi ótima... apesar de saber das diferenças entre o sistema moral deontológico kantiano e a ética spinozana.
Entretanto, nosso companheiro Cleiton, que também frequenta a tal comunidade, presenteou-nos com a reprodução de um texto de autoria de Eugenio Fernández, da Universidade de Madri, sob o título "Kant contra Spinoza? Duas éticas da autonomia", que pode modificar um pouco esse ponto de vista.
Desejo registrar aqui minhas primeiras impressões sobre o texto, o que já fiz lá na comunidade, apesar de ainda não ter concluído a leitura.
A primeira delas é que Kant não parece, em todos os momentos, ter todo esse "respeito" pelo pensamento spinozano. Mesmo que reconheça que não pode refutar diretamente o filósofo holandês, ele o considera um dogmático e sonhador. É verdade que parece reconhecer a engenhosidade do sistema criado por Spinoza, mas ao mesmo tempo indica-o como falso e quimérico.
Mais curioso, entretanto, é perceber que Kant, filósofo genial e professor universitário brilhante de metafísica e ética, lecionava sem ter o aprofundamento necessário em Spinoza - pelo menos, até 1785 -, indubitavelmente um marco, na História da Filosofia, nessas áreas do pensamento. E isso é comentado por Hammann, quando escreve a Jacobi, dizendo "Kant me confessou não haver nunca estudado a fundo Spinoza". Suas opiniões eram baseadas, em grande parte, em comentadores - principalmente Wolff e Bayle. Isso soa a um comportamente "amadorístico".
E outra coisa a ser destacada, lembrada pelo autor do texto, é que mesmo na "Crítica da Razão Prática" - que deveria demarcar profundamente as concepções de Kant e Spinoza -, o filósofo alemão faz mais ataques à metafísica spinozana do que à sua ética - o que seria de esperar pelo conteúdo desta obra de Kant.
Vale lembrar que essa obra já é de 1788, e que a essa altura, com a polêmica sobre o pensamento spinozano, envolvendo Mendelssohn, Jacobi e Lessing, Kant já havia se debruçado sobre Spinoza. Ainda assim, o autor do texto faz a ressalva que Kant provavelmente não conhecia o "Tratado da Reforma do Entendimento" e a segunda parte (?) da "Ética".
Vale a pena conferir o texto no blog do Cleiton, na parte dos artigos.

4 comentários:

Barrett Pashak disse...

Spinoza contra Kant / Constantin Brunner

Ricardo disse...

Dear Mr. Barrett, thanks for your sugestion. I loaded the book and I've just started to read it. It looks to be really a good paper.
Hugs.

humanaesfera disse...

Texto que talvez te interesse:

Autonomia e cotidiano - Espinosa e o imperativo de Kant: "Tratar os outros e a si mesmo como fins, jamais como meios" http://humanaesfera.blogspot.com.br/2015/10/autonomia-e-cotidiano-espinosa-e-o.html

Ricardo disse...

Entrei no blog "Humana esfera" para ler o material citado. Apreciei a seriedade com que o tema foi abordado. Penso que a ideia contida na conclusão do post é interessante: "O que está em jogo é a nossa capacidade de, nesse mundo que é um emaranhado servil de reações cegas, sermos efetivamente capazes de criar e propagar a razão e a liberdade". Apesar de pensar que, em certa medida, este seja o projeto de Spinoza, acho que alguns cuidados têm que ser tomados com os conceitos utilizados, pois eles acabam por não corresponder ao pensamento spinozano.
De qualquer modo, aportes sérios são sempre muito bem vindos.
Agradeço muito ao autor do blog "Humana esfera" aqui, o que farei no seu próprio espaço também.