terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Novamente, Arruda?!

José Roberto Arruda está no meio de um escândalo envolvendo propinas. Filmado e "gravado" fazendo suas negociações, a coisa fica meio difícil de ser negada. Obviamente, sê-lo-á, pois a fertilidade da imaginação de nossos políticos ultrapassa, em larga escala, a dos melhores escritores de ficção de todo o mundo. Mas não é para louvar essa ladinice que estou escrevendo, e sim para lembrar um pouco do passado do governador Arruda.
Pego com a "boca na botija" no caso da violação do painel eletrônico do Senado, em 2001, junto com o, então todo poderoso, senador Antônio Carlos Magalhães, e ameaçado de ser cassado pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, José Roberto Arruda resolveu deixar o cargo. Não sem antes reclamar do "exagero" da punição. Segundo ele, à época, o castigo deveria ser proporcional à culpa. Disse, então: "Não matei, não roubei e não desviei recursos públicos".
Bem... ao que parece, nesse episódio de agora, ele também não matou, só recebeu recursos para favorecer os cedentes desses valores. Deve ter pensado - valendo-se de uma certa lógica: "Se antes, eu não matei, não roubei e não desviei recursos públicos e seria cassado, melhor fazer isso agora, para ver se não sofrerei a mesma punição!".
Mais interessante é que, por esses dias, fazendo aqueles trabalhos escolares com minha filha, para os quais guardo um monte de revistas antigas, descobri uma matéria da época, publicada na revista "Isto é", em que ele aparecia como "favorito ao governo do Distrito Federal" - favoritismo que acabou se confirmando com sua eleição. A matéria tinha como título "Ele foi ao Inferno. E voltou"... Bonito!!!
A matéria conta um pouco do caso da violação do painel; do pedido do relator do processo de cassação, Roberto Saturnino Braga - que tem frequentado o blog em posts anteriores -, pela efetivação da punição; e segue com Arruda falando sobre o acontecido.
Uma das passagens registra a sua opinião de que "Na verdade, cometi dois erros. O primeiro foi ver a lista. O segundo foi ter mentido, na tribuna do Senado, e nos primeiros depoimentos, dizendo que eu não tinha visto". Nenhuma menção à possibilidade de ter cometido um erro mais primordial, de violar o painel. Mas... sigamos.
O fim da matéria indica as três lições tiradas por Arruda com aquele evento: 1ª) "Há momentos em que, no plano racional, você não consegue superar determinadas situações. Você precisa se soltar, subir para o plano espiritual. De lá, a visão do mundo fica diferente. Tudo fica mais fácil"; 2ª) "É preciso ter humildade para reconhecer os próprios erros" e 3ª) "Na nossa sociedade tudo é muito superficial, inclusive as amizades, que muitas vezes são enganosas". Sobre essa última lição, Arruda diz que as coisas só começaram a mudar depois que amigos o chamaram para assistir a um jogo do seu time de coração, o Gama, contra o Santos. O seu time perdia por 1 a 0 e alguém, reconhecendo o ex-senador, gritou "Arruda... mexe no placar!". Segundo o texto: "Ele se virou, encarou a pequena multidão sorrindo. Recomeçava a ser o Arruda que toda Brasília conhece". Bonito! Cheguei a me emocionar com essa descrição das lições arrudianas!
Espero que o governador Arruda tenha a felicidade de ter guardado a revista "Isto é", ou possa dar uma olhadinha neste blog, a fim de rever as lições e poder relembrá-las para esse novo episódio.
Desejo, então, que ele possa novamente ter a fé suficiente para "se soltar, subir para o plano espiritual" e ver tudo ficar "mais fácil" e que tenha "humildade para reconhecer os próprios erros". Infelizmente, quanto a ir ver um jogo do Gama, com os amigos, já não será mais possível, visto que seu time ficou de fora da outra fase da Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. Fica para o ano que vem... ou para o próximo escândalo, Arruda!

2 comentários:

Maria disse...

Senhor Ricardo!!
Antes demais…Bom dia!!
Quanto ao post de hoje…venha até Portugal e verifique o que é escândalos atrás de escândalos. Não num mísero deputado, não num vulgar ministro mas sim no inabalável, no considerado dos homens mais charmosos de Portugal.o 1º ministro José Sócrates!!
Sim, ele mesmo. Ele que pede rigor e disciplina e tira uma das cadeiras –Inglês- por fax e ao fim de semana. Ele que quer que industria portuguesa seja competitiva, produtiva e séria e só veste roupas feitas nos grandes costureiros parisienses. Ele que exige regras e trabalho para os trabalhadores da função publica e é apanhado num avião, onde é expressamente proibido fumar, a dar umas valentes cigarradas,.Ele que está metido em escândalos atrás de escândalos como o do “freeport” e agora o da “face oculta”.
Quando há uns anos atrás comecei a entrar na net e travei conhecimentos com pessoas desse lado do Atlântico e os lia falando da corrupção que por aí existia e da forma como os professores eram vistos e tratados por aí eu achava que vivia num paraíso. Afinal aqui os políticos pareciam todos sérios e nós, professores, éramos tratados com respeito, consideração e afecto. Neste momento parece que copiamos de vocês não as coisas boas como a vossa imensa alegria e boa disposição, mas aquilo que vocês têm de pior.
Ah, senhor Ricardo, homens como Sócrates e esse tal Arruda fazem-nos desacreditar no ser humano e olhá-lo para a sua face negra, para aquilo que o ser humano tem de pior, para aquilo que existe de diabólico em cada um de nós.
Mas alegria, alegria, porque hoje é feriado aqui e mais um dia que podemos viver intensamente juntamente com aqueles que mais amamos.
Maria

Maria disse...

No dia 1 de Dezembro de 1640, nós gritávamos vitória e independência de Espanha que nos dominou durante 60 anos.
Hoje há vozes que se levantam, saramago por exemplo, que defendem que Portugal e Espanha deveriam ser apenas um único país, ou seja que Portugal deveria ter saltado o dia 1 de Dezembro e nunca clamado vitória.
Eu digo" O tanas!!" Ups...me perdoe a expressão...rs

De qualquer forma porque há quase 400 anos nos revoltámos é hoje um delicioso feriado.