Obviamente, o Nobel de Obama não foi pelo que ele já fez, como é o procedimento usual, mas pelo que ele pode fazer. Pelos "indícios" que ele deu, fez-se uma aposta.
Mas... foi só isso? Não teria sido também uma forma de pressão, ainda que sutil? Tendo em vista decisões que teriam que ser tomadas pelos Estados Unidos, em relação às guerras em andamento, aumentar-se-ia a responsabilidade de Obama, com o tal prêmio Nobel, de responsabilizar-se com um movimento de retirada de seu contingente.
O prêmio, em si, é tão espantoso que o próprio Obama, em seu discurso de aceitação, citou o fato de ser premiado apesar de ser o "comandante de uma nação em meio a duas guerras". Portanto, nem é disso que eu quero falar nesse post. O fato é que, por conta da simpatia de Mr. Barack, o apoio a seu discurso tem me parecido um pouco desmedido.
Vemos, por exemplo, repetidamente as opiniões do jornal O Globo registrarem que, ainda que mantendo a mesma política beligerante de Bush, Obama não aceita abusos como os de Guantânamo e, repercutindo a citação do presidente, que não é possível convencer os talibãs e a Al-Qaeda a estancar o processo de violência.
Neste último domingo, chegou-se a escrever, no Editorial de O Globo, ainda repercutindo a fala do presidente Obama, que "um movimento de não violência não poderia ter parado os exércitos de Hitler". É verdade... mas acho que teríamos que perceber quem é o "agressor" nessa situação atual. Sem pretender culpar Obama pela interferência no Afeganistão e no Iraque, e ainda concordando que não é possível eliminar abruptamente essa mesma interferência, não se pode negar que, em termos efetivos, a modificação entre os presidentes Bush e Obama se deu apenas no campo do discurso... o que ainda é muito pouco.
Mas, o pior mesmo, na minha opinião, foi a reintrodução do conceito de "Guerra Justa". Qual governo não apela à justiça quando vai entrar em guerra? Qual o soldado que parte para o campo inimigo apenas para "assassinar" mulheres e crianças indefesas? É certo, entretanto, que se ele encontrar, na sua campanha, mulheres e crianças "enganadoras", que tentam ajudar os inimigos "criminosos" e "maléficos", poderá matá-los... mas aí, é outra coisa!
Esperemos que não precisemos ter guerras - nem justas, nem injustas! Precisamos, sim, de uma ONU forte, mediadora de conflitos pontuais, com tal peso que acabe por "abafá-los", em vez de precisar combatê-los.
4 comentários:
Como sabemos, Obama não controla o país sozinho, o que mostra que essa ambigüidade na forma como está fazendo sua política externa tem um “fundo” mais complexo do que possamos imaginar. Sua mudança de discurso sobre a manutenção da guerra do Afeganistão durante a campanha dá ainda mais sustentação a essa tese. Não podemos nos iludir: política não se faz por um homem só, o que inclui o parlamento, os ministros e assessores do presidente, evidentemente, mas também, infelizmente, os membros mais proeminentes de seu partido, seus patrocinadores de campanha, e, o mais perigoso de todos os “elementos”, forças poderosas que, secretamente, possuem grande influência no meio político (a industria de armas, só para citar um exemplo de outros “figurões” desconhecidos para o grande público, mas com enorme poder no círculo político). E isso não ocorre só com Obama e nos dias de hoje, sempre foi assim, inclusive no Brasil. Sim, essa é a democracia que nós amamos defender...
Um abraço.
Por favor, ao lerem o texto, desconsiderem o trema em "ambiguidade" (essa novas regras as vezes me passam desapercebidas ainda). Obrigado.
Amigo Existenz:
Inicialmente, gostaria de dizer que as Novas Regras Ortográficas ainda são motivo de dor de cabeça para todos. Enquanto elas não forem plenamente internalizadas, teremos que pensar antes - e mesmo depois - de escrever. Desta forma, nem seria necessária a retificação... todos compreendemos que se trata do período de adaptação.
Sobre o post, agora.
É certo, como você bem escreveu, que "Obama não controla o país sozinho". Aliás, isso vale para todos os países e todas as instâncias de governo. E mais, como você também registrou, além dos participantes "oficialmente instituídos", ainda há os que trabalham "por baixo dos panos".
Até aqui, concordo com tudo. Agora, eu pergunto a você: será que o atual presidente entrou na Casa Branca desconhecendo totalmente essas "forças ocultas" (como teria dito nosso ex-presidente Jânio Quadros)? Será que realmente ele não sabia que, em estando à frente dos EUA, seria pressionado pela indústria armamentista a continuar achando motivos e mais motivos para "guerras justas"?
Como eu acho que ele não era tão ignorante a esse ponto, penso que a coisa vai mais pelo caminho da necessidade política de manter aquele discurso. E, se eu estiver certo, começamos a ver uma certa "má fé" ou, no mínimo, uma certa acomodação ao modo mais fácil de fazer política, que é fazer o discurso certo, mas agir do modo "errado".
Isso nem me assombra muito nos políticos, o que me assusta é quando depositamos um tipo de confiança de que eles vão agir diferente disso, e a coisa não vai do jeito que pensamos.
Mas, novamente como você destacou, a coisa tem um "fundo mais complexo do que podemos imaginar".
Grande abraço.
Olá Ricardo. Acredito que a forma como estas “forças ocultas” pressionam um ex-futuro-presidente-da-república não ocorre toda “de uma vez”, e se instituem imediatamente a medida que surgem. Há, no meu entender, todo um jogo de forças, que se revezam em termos de “voz”, algumas vezes podem ser até contraditórias entre si, além de se afrouxarem ou se radicalizarem segundo o andar dos acontecimentos. No entanto, a forma como ele “embroma” as pressões que vêm de todo lado, ou mesmo quando ele consegue dizer um definitivo “não” para alguma delas (principalmente as mais ameaçadoras, afinal, ele tem muito a perder não “jogando o jogo”, vide o presidente Collor no Brasil) é algo completamente incerto.
Logo, respondendo a sua pergunta, para mim haverá diferença de intensidade dessas “pressões” em relação ao Obama candidato e ao Obama presidente eleito, e assim “imaginar” que haverá certas pressões e de fato ser coagido a cooperar quando elas (e muitas outras não imaginadas, afinal, um candidato a presidente ainda não sabe de tudo que um presidente encara na prática, NINGUÉM SABE) de fato surgem é algo bem diferente...
Agora, a respeito do seu assombro sobre certas reações dos políticos, acho que o certo é: 1) ou se acostumar com essa forma de se viver, permanecendo acreditando nessa forma de Estado “democrático” apesar dos pesares; 2) ou perceber que há algum problema maior do que a própria pessoa dos políticos, ou seja, que há um problema bem mais profundo no modo como funciona nosso sistema político, afinal como pode instituições ditas “democráticas” sustentarem um sistema político onde todos os representados estão insatisfeitos com os seus representantes? Eu, particularmente, cada vez mais estou caindo para a segunda opção.
Um abraço.
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