Ontem, tive aula sobre Kant, no curso da Casa do Saber. O professor Luiz Bernardo Araújo manteve o nível dos anteriores, demonstrando muito conhecimento e muito apreço pelo filósofo de Köenigsberg. A área de especialização do professor era Ética, mas isso não impediu que ele transitasse confortavelmente pela primeira Crítica kantiana - a da Razão Pura -, que diz respeito à Epistemologia.
A aula só não foi mais interessante por três motivos. Primeiro, eu já conhecia tudo o que foi dito sobre a epistemologia kantiana. Segundo, tudo o que foi dito sobre a ética deontológica kantiana - com a qual eu nunca concordei, baseado nos poucos recursos filosóficos de que disponho - foi totalmente "arrasado" por um texto que tinha lido, poucos dias antes, intitulado "A teoria moral de Kant", retirado e traduzido do livro "Core questions in Philosophy", de Elliot Sober - texto, aliás, que farei questão de disponibilizar para os amigos. E, terceiro, porque o tempo de aula foi usado integralmente na explanação do professor, o que quase não permitiu perguntas.
Gostaria de, tendo tempo para tal, indagar o professor sobre as oposições do texto do filósofo Sober, a fim de ouvir uma defesa de alto nível. Mas não foi possível.
Então, a ética kantiana continua a me parecer uma posição intelectualmente indefensável e impraticável no quotidiano, parecendo-me só uma apresentação "elegante" e formal da ética protestante pietista absorvida desde cedo de sua mãe.
Há algum tempo, coloquei no outro blog um texto em inglês intitulado "O que está errado com Kant?" - se não me falha a memória a respeito do título. Um amigo meu, kantiano "de carteirinha", achou o texto absurdo, não pela parte teórica, mas pelo desprezo total pela filosofia de Kant. O problema é que não é só aquele pensador que tem tal opinião. Olavo de Carvalho, embora seja um filósofo "problemático", compartilha da mesma visão; mas o mais famoso dos detratores de Kant é, nada mais, nada menos que, Bertrand Russell, para quem Kant foi "a maior catástrofe na história da Filosofia". Nem vou citar o irônico George Bernard Shaw, porque esse é só um "comediante" pensador.
Amenizando, entretanto, as opiniões contra o grande prussiano, "A teoria moral de Kant", de Sober, cria embaraços à ética kantiana quando avalia os quatro exemplos que Kant utiliza para demonstrar suas teses na "Fundamentação Metafísica dos Costumes" (1785).
De qualquer forma, o autor faz uma defesa de Kant, quando escreve essa bela passagem:
"Kant pensava que uma importante consequência do teste da universabilidade é que DEVEMOS TRATAR AS PESSOAS COMO FINS EM SI E NÃO COMO MEIOS... A teoria kantiana parece fornecer bases mais sólidas do que o Utilitarismo para a ideia de que as pessoas têm direitos que não podem ser ultrapassados por considerações de utilidade". (GRIFO MEU)
De qualquer forma, a aula serviu para reforçar alguns conceitos da moral kantiana, além de esclarecer melhor o porquê da liberdade do homem no Sistema de Kant.
Nada mais distante de Spinoza, mas... "Cada um no seu quadrado!". Rsss.
Um comentário:
Ricardo, apesar de vc ter parado as minhas aulas da ética do Spinoza, já gostei de saber que é diferente de Kant.
Eu também acho que ninguém consegue racionalmente defender uma ética que não leva em consideração os efeitos da ação. Acho até que é mais fácil dizer 'Não faz isso' simplesmente, do que dizer 'Não faz isso, porque senão isso vai acontecer'. Mas acho que o segundo jeito fundamenta bem melhor uma ação ética.
SDS.
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