Entre os jovens recebidos pelo funcionário da Secretaria de Obras estava o mais reflexivo do grupo, que depois vai conversar com o bibliotecário-filósofo.
No meio da conversa, aborda-se a aversão de Platão à democracia. Este pensador acreditava que a melhor opção seria uma sociedade comandada pelo "rei-filósofo", ou seja, um líder sábio. Desta forma, a resposta à pergunta "Quem deve governar?" seria "Os melhores, ou seja, aqueles que sabem mais".
O bibliotecário registra a opinião do filósofo Karl Popper, apresentada em "A sociedade aberta e seus inimigos". Popper demonstra acreditar que nazistas e comunistas tinham essa mesma perspectiva: uma pequena elite reconheceu a verdade e deve mandar na sociedade. Ainda que concordando com a afirmação de que os mais sábios devem conduzir a sociedade, Popper identifica que o problema está em deliberarmos quem sabe mais.
É verdade que a visão de "aristocrata" e de "filósofo"/"sábio", segundo Platão, não estava relacionada apenas ao aspecto gnoseológico, mas também ético... talvez até fosse melhor dizer que, concordando com seu mestre Sócrates, Platão achava que o maior conhecimento impediria a falta de um comportamento ético. Desta forma, o "rei-filósofo" seria uma figura ética, justamente pela sua sabedoria. E esta sabedoria faria com que ele merecesse sua posição como líder da sociedade.
Portanto, não estamos falando apenas de diplomas, de pós-graduações e de doutoramentos, ou seja, de mero conteúdo teórico adquirido, chamado "conhecimento", mas de uma "sabedoria viva", aliando boa teoria e boa prática.
Além do mais, hoje seria difícil admitir que características meramente quantitativas (como medidas de crânios, por exemplo) pudessem chancelar categoricamente a maior qualidade de alguém, como se pretendeu na época do nazismo.
De qualquer forma, ainda acho que as "boas intenções" de alguns que se candidatam a cargos políticos teriam que ser "emolduradas" por um maior conhecimento da estrutura de poder - o que incluiria a delimitação e a relação entre as forças em jogo - e do comportamento minimamente ético que se exigiria dos agentes políticos. Uma vez conhecidos esses parâmetros teóricos, a prática dos eleitos teria que se adequar a eles... ainda que se valorizassem as boas intenções de suas ações.
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