Há algum tempo quero escrever algo sobre esse historiador brasileiro. Para quem não o conhece - como era o meu caso, até bem pouco tempo atrás -, ele é membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências. Além disso, já foi agraciado com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, uma das mais importantes honrarias na área da ciência e tecnologia do país.
Comecei a acompanhá-lo após ter lido uma entrevista sua dada ao jornal "O Globo". Curiosamente, a entrevista tinha como assunto principal a corrupção no Brasil, tema que ele já havia abordado em entrevista, no ano de 2005, ao "Jornal do Brasil". Nessa entrevista, o prato principal era o escândalo das passagens dos deputados federais, enquanto naquela época o destaque era dado ao mensalão.
Gostaria de destacar alguns trechos da última entrevista dada.
Perguntado se a enorme lista de casos de corrupção no Brasil tinha um fundo histórico ou se era apenas uma questão da mídia, atualmente, expor melhor o que antes acontecia às escondidas, significando que em todos os países a coisa era igual, José Murilo respondeu: "Certamente não é igual em todos os países, sobretudo os protestantes, em que a ética pública é mais rigorosa. Mas é comum aos países de origem ibérica, por conta do patrimonialismo, em que a distinção entre o público e o privado é pouco nítida".
A entrevistadora Roberta Jansen pergunta se não estaria havendo uma banalização da corrupção, por conta de ninguém mais se chocar tanto com as notícias veiculadas. O historiador responde: "O governo Lula tem muitos méritos, mas trata várias dessas práticas com condescendência, o que, de certa forma, as naturaliza e reduz a reação".
Neste ponto, eu gostaria de lembrar que no mais recente escândalo do Congresso, envolvendo o ex-presidente da República, atual presidente do Senado, José Sarney, Lula fez todo o esforço para salvar seu aliado, criando até um racha dentro do próprio PT.
O historiador é muito feliz, penso, quando responde à jornalista sobre se a população não deve ser mais "raivosa" em relação aos escândalos. Diz ele: "O bolsa família atinge quase um terço da população do país. Isso gera duas opiniões: a pública e a popular. A pública é aquela veiculada na imprensa por uma parcela da população que tem um nível de escolaridade mais alto e que, em geral, não depende das benesses do governo. Mas para os que dependem diretamente das políticas públicas é diferente. A maioria dessas pessoas nem concorda com essas práticas corruptas, mas age por pragmatismo. O que é totalmente justificável, já que elas vivem num mundo de necessidades".
Apesar de não concordar plenamente com o professor, não posso deixar de reconhecer que quem está abaixo da linha de pobreza, em estado de "miserabilidade", não pode "se dar ao luxo" de votar com a consciência, já que o apelo do estômago é mais forte.
Perguntado se vislumbra solução a curto prazo, o historiador responde: "Vai demorar. De um lado, você tem uma impunidade escandalosa. Um Congresso que não pune ou pune de forma inadequada... Só vai melhorar quando os eleitores passarem a punir com o voto, o que ainda vai levar um tempo".
É sempre importante destacar que, para punir com o voto, o eleitor tem que ter plena consciência de tudo o que está em jogo quando escolhe um tal sujeito para representá-lo. E essa consciência só pode ser fruto da educação política, aliada a uma "independência" social, que lhe permita uma escolha que, mesmo postergando um ganho pessoal imediato, aposte num ganho social a longo prazo.
A última pergunta dizia respeito à chegada de Lula ao poder, como um rompimento com a tradição do governo realizado por uma elite. O comentário de José Murilo é o seguinte: "Quando Lula foi eleito,... era gente diferente no poder, gente mais próxima do povo. Era um partido que se diferenciava por ter uma ideologia e por defender uma ética política. Mas a verdade é que para vencer, para passar daquele patamar histórico de 35% de votos, Lula teve que assumir determinados compromissos... No escândalo do mensalão, ficou claro que a chegada ao poder tinha corroído a tão trombeteada ética petista, e que as posições ideológicas do PT estavam sendo abandonadas. O escândalo o colocou no mesmo saco dos demais".
Esse "colocar no mesmo saco" é que me parece mais problemático. Não é incomum "pecar" - num sentido mais secular e menos religioso, com o significado de "errar". Mas quando o "pecador" é alguém que vive pregando a moral e vive condenando os outros pelos seus erros, aí o "pecado" ganha outra proporção.
O problema, então, a meu ver, não é afirmar que o PT não faz nada diferente dos outros; que esses fatos "obscuros" sempre aconteceram, em todas as épocas. O problema é justamente que o PT alardeava que era diferente de todo o "resto" - e "resto", aqui, com a pior conotação de "sobras apodrecidas". Então, ao copiar esse resto, "peca" duas vezes: pelo próprio pecado e pela mentira que usou para ludibriar aos que desejavam coisa melhor.
2 comentários:
Olha compadre nada mais repugnante do que a cruzada Petista encabeçada pelo nosso Presidente em salvar seu aliado Sarney, incomoda-me bastante o fato deste Senhor das capitanias Sarney e sua familia em sua quase totalidade corrupta que tem o Maranhão como brinquedo de luxo de suas tramóias, este Senhor que simplesmente faz qualquer coisa para estar sempre nos holofotes do poder, foi um dos grandes articuladores de obstáculos para que o LULA se tornase Presidente , mas o mesmo quando viu que não tinha e o LULA nos comandaria,vendeu seu apoio, como sabe fazer, com cargos e muita grana, o PT para mim nada difere dos outros, como disseste pecou duas vezes, mas o que importa para a nossa massa ser manobrada é se o corintians e flamengo estejam bem, e ainda recebendo um bolsa familia ou um bolsa qualquer coisa tá bom demais da conta para eles, assim vamos nos tornando a Republica em que todo mundo anda de VAN pirata por ser mais barato e porque o Legal não se interessa em explorar este serviço, mas quando ocorre o acidente na Linha vermelha jornalistas, politicos e demais pessoas vão a Midia dizer ser um absurdo a existencia deste serviço, amigos chego a conclusão que somos uma nação de hipócritas, pois todos adoram uma contravençao as Leis, esta é a essencia de grande parte de nossa população e quando a Contravençao é pega na botija travestimo-nos de Zelosos senhores da Conduta Moral e ética.Ou seja não sei se nosso país tem jeito.
Compadre:
Como você bem registrou, a família Sarney é uma boa mostra de nossos políticos. O clã está sempre na mídia, e não é pela boas ações que fazem. Não posso deixar de reconhecer que Sarney escolheu o "melhor" partido para realizar suas atividades políticas. Afinal, o PMDB é o mais vendilhão de todos os partidos que participam de nossa pobre política nacional.
Mais curioso é o fato de o Sarneyzão nem ser senador pelo Maranhão. Que loucura, irmão!!! É como se, amanhã, eu fosse ser vereador por Itanhaem do Norte, jurando que sempre tive grande amor pela cidade e lá trabalhe... apesar do pequeno detalhe de ter residência a 700 km do lugar.
Quanto às nossas "pequenas" ilegalidades, houve uma coluna de jornal - não me recordo se escrita pelo Jabour - cujo título era "Somos todos ilegais?". A verdade é que, seja pela força do "Sistema", seja pela vontade se "se dar bem", o brasileiro vai se acostumando com as pequenas ilegalidades. Sem percebermos, isso vai minando a educação do país. E, cada vez mais, vejo pouco jeito para sairmos de mais essa.
Especificamente sobre o assunto da van envolvida num acidente que matou quatro crianças e feriu seis, você percebeu que das 52 vans que fazem o transporte, apenas 7 fazem-no de forma legal? E isso porque estamos falando de um grande colégio. Imagine para um "fundo de quintal" qualquer. Agora, o fato é que o pai que precisa levar seu filho ao colégio, e não consiga usar uma das "míseras" sete vans legais, terá forçosamente que lançar mão das "espantosas" 47 ilegais. E tudo vai seguir bem, até - como você disse - um acidente ocorrer. Nesse caso, falaremos do "absurdo" das vans ilegais.
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