quinta-feira, 9 de julho de 2009

Livros "comportados"

Há livros tão bem educados, tão comportados, tão pacientes. Eles são comprados; prometo a eles que serão logo lidos e eles aguardam. Veem outros passarem sua frente, mas esperam pacientemente. Às vezes, fazem cara de choro. Eu os pego na estante... faço um agrado, dizendo "É... interessante isso aqui! Tenho que pegar logo para ler. Será depois desse outro, que vem depois desse...". Eles sorriem, e veem novamente outros passarem sua frente. Mas continuam comportados.
Agora... há outros que são "insuportavelmente" exigentes, ou melhor, intransigentes. Eles são comprados e ficam reclamando que querem ser lidos logo; que têm lá os seus direitos; que, se não foi para serem lidos, mas para ficarem tomando poeira na minha estante, era melhor eu os ter deixado lá, para que outras pessoas mais interessadas iniciassem logo sua leitura.
Dois desses livros da última espécie foram adquiridos por mim, por esses dias. Um deles se chama "O sentido da vida", de Ragnar Ohlsson, publicado pela Callis Editora. Ao contrário da profundidade do título, é um livro quase juvenil. Mas achei bastante interessante para introduzir um jovem no pensar filosófico. O livro é um romance. Ele conta a estória de jovens que invadem uma casa que será destruída para passagem de uma rodovia. Para evitar a autoestrada e a poluição que ela produzirá, o grupo decide entrar na casa e impedir sua derrubada pelas autoridades competentes. O grupo, conversando, trata de temas filosóficos. Há discussões sobre temas sempre caros à Filosofia como o livre-arbítrio; a democracia (e a desobediência civil); a realidade; o aborto, bem como diversos aspectos da moral. Ao longo do texto, aparece um bibliotecário que conhece Filosofia e que apresenta ideias de alguns filósofos ao jovem mais reflexivo do grupo.
Espero colocar alguns posts, bem leves, sobre esse livrinho de apenas 87 páginas.
Outro livro recém adquirido desse último tipo foi "A Filosofia como remédio para o desemprego", de Jean-Louis Cianni, publicado pela Editora Best Seller. Uma ressalva, de antemão, a este livro: ele, apesar de publicado em 2009, ainda não foi redigido segundo as novas regras ortográficas. Isso é uma lástima, pois é justamente a leitura que nos fará adquirir o hábito dessa mudança. Mas... vá lá... e vamos ao livro.
Esse último, embora lido até a metade apenas, também é um romance, porém mais reflexivo. O personagem principal, jornalista envolvido com propaganda, é demitido. Ele vê seu "eu social" ir se desmoronando ao longo da jornada de busca de emprego e resolve usar a Filosofia como "saída" para seu questionamento existencial. Logo no começo do livro, o recém desempregado pensa: "Nessa época em que as religiões, as buscas exóticas dos mais variados tipos e até as seitas propõem as soluções existenciais pré-fabricadas, pareceu-me que o questionamento filosófico ocidental não só preservava todo o seu vigor e interesse, mas que nos bastava amplamente como apoio nas adversidades".
Na minha leitura, tomo a situação real do autor - a demissão - metaforicamente, entendendo-a como "qualquer situação adversa". Nesse sentido, todos precisamos de um apoio. Melhor que ele seja um apoio que fortalece do que um que ilude - penso.
O autor acrescenta: "Entender, tornar-nos mais fortes, abrir-nos para os outros: eis aí o kit de sobrevivência da Filosofia", e, seguindo a minha metáfora, oferece o livro aos seguintes leitores: "De maneira mais abrangente, a todos que desejam voltar ao mundo depois de uma provação. Que possam encontrar aqui os caminhos de sua ressurreição filosófica!"
Dito isto, o autor vai usando "lições" (não meramente teóricas, mas principalmente práticas, ligadas às vidas de alguns filósofos) de Sócrates, Spinoza, Pitágoras, etc.
Depois lanço uns posts desse livro, também.

12 comentários:

Júlio disse...

Ricardo, eu tenho acompanhado o blog sempre. Mas tenho tido algumas atividades a mais e por isso não tenho escrito nada.
Pelo menos deu pra dar os parabéns pra Maria no dia do seu aniversário.
Estou esperando o Schumacher da Filosofia aparecer novamente no blog.
Ah... eu adorei esse post dos 'livros comportados'. Só de escrever isso já fico rindo. Espero que vc tenha mais livros comportados do que impacientes.
Vem cá, vc já leu a entrevista do Heidegger pra revista Der Spiegel? Nela é que se baseiam os que defendem a posição dele diante do nazismo. Se vc quiser, eu tenho ela.
SDS.

mundy disse...

Bom Dia Compadre e amigos do Blog, bem movido pela curiosidade que me foi aguçada pelo Ricardo ao me mostrar o Livro do Jean Louis, entrei numa livraria na terça dia 07 , adquiri dois livros o mesmo que o Ricardo possui e um que me chamou a atenção pelo Titulo "keep Going", que é uma expressao da Lingua nglesa falada no EUA que siginifica não desista, não abandone e por aí vai, li este livro de maneira rápida por dois motivos, primeiro que ele é em formato de pocket book e segundo que não estava gostando dele, então queria acabar logo , para poder começar a ler o Filosofia como remédio para o Desemprego, o que já estou fazendo e digo que estou tendo enorme prazer em le-lo , penso que igualmente ao KEEP GOING, vou le-lo de forma rápida, pois tenho mais um livro que estava lendo sobre investimentos que parei de ler para degustar estes dois adquiridos na terça, mas o de Jean LOUIS ao contrário do KEEP GOING , me dá prazer, mas prometo que um dia releio o KEEP GOING, pois ao final da Leitura do mesmo, fiquei com um sentimento de que ao Contrário do Tema que fala para não abandonar, não desistir, eu queria era fazer o contrário, mas como o tema era KEEP GOING não o fiz, mas pode ser que tenha sido bastante severo com o Livro na ansia de que minhas expectativas ao tema não estarem sendo atingidas, então fica aqui a promessa de uma futura releitura do KEEP GOING, antes que eu deixe de pertubar os nobres não se esqueçam de uma coisa KEEP GOING, hehehehehehehehee.

Ricardo disse...

Esse meu compadre faz justamente o contrário de mim. Eu, quando tenho um livro muito bom, quero lê-lo rapidamente; quando estou chateado com um livro, vou arrastando, arrastando... passo a lê-lo junto com outro, e, ao final, vejo que ele está sempre ali.
Acho que o certo seria fazer como compadre Mundy: lê-lo a jato, para aliviar logo o aborrecimento. Rsss.
Agora, voltar a um livro "chato"... só mesmo com muita crítica sobre a minha primeira avaliação ter sido "severa" demais, como fez o compadre.
O mais provável, de verdade, é que ele fosse parar numa estante empoeirada lá na casa de campo da minha mãe, em companhia dos meus livros de Engenharia e Direito. Rsss.

mundy disse...

Bem tentei ler dois livros ao mesmo tempo, um sobre o mundo das finanças e o Filosofia como remédio para o desempregro, não deu certo, pois comecei a embaralhar as estaçoes na cabeça, hehehehehehehehehehe, entao vou seguindo na leitura do de Filosofia, em que já estou na terça parte e depois sigo com o de finanças em que estava também na terca parte, ou seja se juntasse as duas em uma, já tinha acabado de ler um, hehehehehehehe.

mundy disse...

Nossa querida Maria , respondeu me no post , referente ao seu niver, então cara amiga , eu por hábito e em verdade tenho a mania de abandonar até livros que gosto e pegar outros, e depois voltar ao que abandonei, estou me disciplinando e agora leio até o final, mas no caso deste em que não gostei, mas não abandonei, foi um misto de seguir pelo menos o Titulo Keep Going, e não desistir, ou então uma ansia de ver se em algum momento o livro me mostrasse algo mais profundo, do que os cliches que o escritor usa na composição do texto, mas tá tudo certo, eu no espaço de uma semana estou lendo tantos e diversos livros(assuntos) que pode ser que em algum momento possa melhorar minha linha de argumentação e retórica ao sentar para conversar com meu Compadre, senti que andei meio que defasado em relação ao poder argumentativo do Amigo de longa data, então procuro na minha modesta tentativa de poder ser um argumentador tão excelente quanto o culto Ricardo, falando sobre isso , o livro que estou lendo o Filosofia como remédio, que certamente o compadre já deve ter acabado e eu estou agora chegando a metade, fala de uma passagem do autor que no momento que ele atravessava em sua vida, tinha apenas a companhia de seu Amigo Jaques, olha que eu no momento que atravesso, sinto que as minhas conversas , um tanto semanais ou mensais com o Compadre, é um bom exercicio de aprendizado e experiencia de vida, uma pena que os contatos não possam ser mais constantes, pois o único senão que faço ao Compadre é sua comoda preguiça em visitar ao Mundy que vos escreve, pois caso eu não apareça em Icaraí, os papos seriam anuais, Então vai um Recado, dá um chute nesta preguiça e lembre-se que assim como Maricá em marcha lenta de automovel fica a 45 minutos de Icaraí, salvo engano de Icarái a Maricá deve dar os mesmos 45 minutos, heheheheheehehe.

Prof. Guilherme Fauque disse...

Muito bom!!

Adorei esta metáfora dos livros exigentes e comportados. Rapaz... tem um livro do Luc Ferry que não para de me encarar!!! Mas eu tenho outros na frente dele que eu preciso terminar antes de pegá-lo na estante. Será que ele pode ficar violento? Tenho medo que um dia destes eu esteja dormindo e ele pule no meu pescoço... pensando bem... acho que vou apressar a leitura destes outros para ler ele de uma vez...

Júlio disse...

Mundy, o Ricardo tem uma livraria? Ele fica fazendo campanha pró-leitura aqui e o pessoal só comprando e enchendo ele de dinheiro! Mas vou falar a verdade, até eu fiquei curioso com esse livro. Depois eu acho que vou pegar o endereço da livraria dele tb.
Eu acho legal ler mais de um livro. Só que não podem ser de assuntos parecidos, porque aí a gente acaba confundindo as coisas. Mas ler um livro técnico e outro mais filosófico é válido. Quando o livro trata de assuntos existenciais, aí é melhor ainda!
Manda fazer uma estrada especial pro Ricardo que demore 5 minutos de Icarai a Maricá e 45 de Maricá a Icarai. Aí eu acho que ele vai te visitar mais. KKKKK.
SDS

Júlio disse...

Ricardo, pior que vc tem razão. Tem livros que nem se importam da gente não ler. Mas tem uns outros que ficam perturbando e olhando pra gente toda hora. Tb passo por isso.
Me interessei pelos dois que vc falou. Dá pra postar logo alguma coisa do 'Sentido da Vida'?
Do outro que vc falou, gostei das frases que vc escreveu. Tanto aquela da filosofia ser um grande apoio nas adversidades (e aí, eu acho que Heidegger e o Projeto que o hmem faz são muito importantes) quanto daquela do 'kit de sobrevivência' da filosofia, que é 'entender, tornar-nos mais fortes e abrir-nos para os outros'.
Tb pode postar algo desse, que eu leio sem reclamar.
Eu gosto muito de livros que tem filosofia, mas que tb tem uma história de fundo.
Depois vc me manda o endereço da tua livraria.
SDS

Ricardo disse...

Júlio:
Já estava sentindo a sua falta. Sei que não avancei muito na prometida descrição do sistema ético spinozano... e que ataquei o Heidegger em demasia, em alguns posts, mas, como acho que têm surgido outros assuntos que valeriam à pena serem debatidos, fui atualizando o blog segundo essa perspectiva.
De qualquer forma, sei que estou em certa dívida com você.
Sobre a entrevista de Heidegger. Tenho vaga lembrança de já tê-la visto em algum livro sobre o filósofo. Vou dar uma vasculhada. Se não achar, apelo ao amigo para que me envie.
Sobre o próprio Heidegger. Esse filósofo continua sendo desafiante por demais para mim. Portanto, duvido muito que "ele" suma do blog. Sei que, em breve, ele estará sendo chamado a dar seu depoimento, através de algum texto, sobre o nosso mundo e sobre nós humanos... quero dizer, nós "daseins". Rsss.

Ricardo disse...

Guilherme:
Nem me fale do Luc Ferry. Tenho vários livros dele. Só comecei a ler um - "O homem deus" - e, mesmo assim, não cheguei ao final. Não por culpa do livro, diga-se de passagem. É que outros interesses surgiram e, reconheço, fui volúvel. Rsss.
De qualquer modo, recomendo-lhe que durma sempre com um olho aberto, ou tranque a porta de onde ficam seus livros. Eles são vingativos, quando querem. Rsss.
Sobre o livro em questão, há até uma estória hilária.
Só para esclarecer, o livro valoriza o homem, diminuindo a necessidade da crença em deus. Eu o estava lendo na praia, num final de semana de sol. Minha filha pediu um picolé a um vendedor ambulante. Quando fui pagar o produto, deixei o livro sobre as pernas, com o título voltado para cima. O vendedor olhou o título e disse: "Eu também sou cristão!", depois invocou Jesus de alguma forma, em agradecimento - nem me lembro bem. Eu me limitei a dizer "Ahã". Ao final do ato de pagamento e devolução do troco, ele disse "Fique com Deus!", e eu respondi "Vá com Ele!". Afinal, sei lá se Deus iria querer beber minha cervejinha! Rsss.

Ricardo disse...

Compadre:
Você é linguarudo mesmo com essa estória de eu o visitar, hein! Rsss.
O pior é que sempre quando eu falo com você, fico sabendo que esteve em tal ou tal lugar no fim de semana. Você não para em casa e quer que eu o visite. É mole?
E outra coisa: você "frequenta" Niterói rotineiramente. Não custa nada perder um tempinho e dar um "oi" para o seu compadre, não é?

mundy disse...

Grande Ricardo, meu nobre,sei que minhas idas a NIKITI são por rotinas , reconehço que é muito mais fácil para mim, mas admite tu é preguiçoso mesmo, pois o fato não é desculpa de não vir, fim de semana faz tempo que fico por aqui e quando saio é por perto de outra forma, podes ligar para o meu celular ou da Andrea ou até mesmo o de casa e falar com alguém que vai vir aqui, garanto que ninguém irá sair , se souber que vc virá nos visitar, de qualquer forma parece me muito comoda a posição de dizer que nunca paro em casa, já o predispoe a dizer isso como "desculpa para não vir", este fiom de semana mesmo , Aliás todos os FIM de semana tenho ficado no Condominio por conta do campeonato que ajudo na organização , que por um acaso termina amanha dia 11, e neste fim de semana estou em casa todos os dias por conta da FEsta JUlina do ELISA, e nao sei se está em recesso no Trabalho, então perdoe me a lingua ferina do seu Compadre, mas a culpa não é de meus compromissos, e sim da sua eterna situação comoda, sabendo que eu sempre dou um jeito de passar por aí, Então vai me perdoar, mas suas afirmações não colam como argumento a me convencer que voce só nao aparece por não saber da minha agenda, eu nunca sei da sua e Toco sempre o Interfone, então desculpa a Bronca quase que pública, mas tu é preguiçoso mesmo, hehehehehehehehee.