Ainda devo uma resposta mais elaborada ao nosso amigo Existenz a respeito da manipulação das notícias, pela Imprensa, com a intenção de conduzir a opinião do senso comum sob uma perspectiva ideológica. Nesse post não pretendo fazer isso ainda.
O que pretendo é ampliar um pouco mais a discussão, ao constatar como uma notícia - ainda sob as sombras da dúvida - pode se tornar uma "verdade" e como esta "verdade" pode afetar emocionalmente nosso juízo, "embaçando" nossa capacidade crítica.
Cito, então, o caso da brasileira que teria sido atacada por um grupo neonazista em Zurique, em fevereiro deste ano. Ataque este que teria causado o aborto dos gêmeos que ela estaria esperando. Para quem ainda não se lembrou do caso, recordo que os agressores teriam marcado o corpo da brasileira com a sigla do partido que apoia ideias de xenofobia na Suíça.
Imediatamente, no mundo todo, as pessoas minimamente sensíveis se chocaram com aquele tipo de violência, ainda mais perpetrada contra uma jovem grávida... mais ainda pela futilidade da motivação. O caso foi manchete por alguns dias. Chocados, como estávamos, passamos à revolta quando a Polícia suíça sugeriu que tudo poderia ser uma farsa, planejada pela própria brasileira. Imaginamos logo um segundo caso Jean Charles - neste, a Polícia britânica executou um inocente e tentou eximir-se da responsabilidade, usando de argumentos totalmente inverídicos.
Mais informações vieram à tona... e passamos a perceber que a brasileira também não tinha uma saúde mental das melhores, ainda que não fosse completamente insana, o que dificultaria um julgamento simplório do caso, conforme fizéramos num primeiro momento. Até a própria gravidez, confirmada pela imagem de uma ultrassonografia enviada, por e-mail, a amigos, teria sido forjada, sendo obtida em um site dos mais pesquisados na rede, conforme se constatou posteriormente.
Pois bem... o fato é que o Ministério Público suíço denunciou a brasileira pela farsa. Faltam-me mais subsídios para afirmar qualquer coisa, mas constato que se não é tão fácil estabelecer um veredicto sobre algo que necessariamente é verdade ou não, imaginem algo que depende de interpretações que envolvem mais "sutilezas"... e, talvez até, um descortinar de certa má-fé ou, quando mais não seja, de uma motivação ideológica diante das notícias.
Ainda assim, mesmo neste caso, que é daqueles em que necessariamente há uma verdade ou uma mentira por parte da brasileira, não podemos negar que haveria um interesse do governo suíço em não deixar transparecer uma ideia de insegurança e de barbárie dentro de suas fronteiras.
Sei que devo uma maior reflexão sobre o tema "Imprensa", mas acho que uma possível solução de partir, preconceituosamente, com uma opinião predeterminada sobre a fonte da notícia, antes de ir à própria notícia, se é boa em termos práticos, certamente não é a ideal em termos teóricos.
4 comentários:
Com certeza, Ricardo, o caso dessa brasileira que se disse atacada por neonazistas na Suíça é um caso emblemático para mostrar um pouco de como a imprensa influencia-nos emocionalmente. Só que vou explicar esse ponto de uma forma um pouco diferente do que poderia parecer a primeira vista. Acho que, nesse caso, você está trazendo a luz mais informações do que eu mesmo sabia a respeito desse caso. Assim, de alguma forma, você nesse post, está fazendo um papel semelhante a da impressa que é de divulgar notícias, com a grande diferença de que seu texto articula, de forma perfeita, descrições e argumentações críticas, transparecendo mais de um “lado” diferente da história, e chamando o leitor a não só reagir ao que é dito, mas sim efetivamente refletir sobre o que foi dito, e assim tirar as suas próprias conclusões. Foi um texto sincero e inteligente, sem “intenções” por de trás do que é falado, o que seria diferente se você só desse os “dados” para o leitor tirar, aparentemente por ele mesmo, uma conclusão a favor de uma posição que já estava implícita no próprio texto. Você em nenhum momento escondeu o fato de que nesse texto também há a sua própria posição envolvida, assim como, você mesmo, Ricardo, se expõe e ao mesmo tempo se responsabiliza por completo em relação ao que é dito, pois se mostra e divulga quem foi aquele que efetivamente redigiu e idealizou (note que ambas são coisas diferentes, apesar de normalmente não prestarmos atenção nisso) as palavras que formam esse texto. Você se abre ao leitor como uma pessoa de fato, não como uma “empresa” ou um “porta voz da notícia”, reforçando o caráter pessoal do que é dito. Assim, mostro, a partir de você, tudo que a mídia não é, e sem, de fato, estar fazendo algum tipo de metáfora, pois cada um de nós também, o tempo todo, possuímos o mesmo papel de “propagador de notícias” (afinal estamos a todo momento propagando para conhecidos os “fatos” que vimos na TV, lemos nos jornais ou nas revistas de grande circulação) que a mídia possui, com a diferença que você se destaca na qualidade desse papel. A diferença que encontramos entre nós e a mídia é que ela é considerada a “propagadora de notícia oficial” da sociedade (e, vemos, apesar disso, que boa parte do material mostrado por ela é comprado de agências de notícias, afinal, por que muitas vezes vemos as mesmas imagens sendo mostradas em noticiários em canais de TV diferentes?), e possui o capital para manter edifícios, enormes equipes de jornalistas, aparelhagem técnica e uma lista boa de contatos para receber esse status. Assim, continue com seu grande trabalho com esse blog, pois em muito você enriquece a vida das pessoas que tem o privilégio de acompanhar seus escritos.
Caro Existenz:
Não posso deixar, logo de início, de agradecer pela sua opinião de que não estou só chamando o leitor a reagir, mas também a refletir sobre o assunto. Bem como você colocou, não há intenções obscuras, apenas de chamar à reflexão. Também, como você disse, o autor está totalmente "declarado" no texto, não havendo uma tentativa de convencimento, baseada em ideologias preconcebidas, prontas a serem divulgadas.
Eu não nego que você tenha razão. Aliás, não precisamos falar apenas da mídia divulgadora de informações, mas de qualquer uma, como, por exemplo, a de entretenimento. Aliás, pensadores como Habermas fizeram isso. E é realmente uma análise importante, a fim de não "cairmos" em qualquer armadilha lançada.
Você também observou bem o fato de que todos nós somos "propagadores de notícias". Talvez, a diferença esteja no fato de que uma instituição específica para esse fim acabe tendo uma credibilidade maior que a nossa... ainda que use de uma certa má-fé.
O mais importante, como eu acho que nós sempre fazemos - eu, você e todos os interessados em Filosofia - é que nós criticamos, no bom sentido, tudo o que chega até nós... e devemos continuar procedendo assim.
Agora... o final do seu comentário é um elogio enorme ao blog e a mim. Não há como não ficar orgulhoso e agradecer muito.
Ver escrito "continue com seu grande trabalho com esse blog, pois em muito você enriquece a vida das pessoas que tem o privilégio de acompanhar seus escritos" é algo que não pode deixar de orgulhar qualquer um que se dedique a alguma ideia.
Obrigado.
Senhor Ricardo!!!
Como sempre vou ficar desfasada, mas o senhor já sabe como sou.
Deixe-me apenas saudá-lo com uma frase, que vale o que vale...rs
" A imaginação é mais importante que o conhecimento "
( Albert Einstein )
Palavras para quê...já sei que não concorda...rs
Abraços
Maria
Cara Maria:
Quanto preconceito teu. Já afirmaste que eu não concordaria com algo, mesmo antes de eu me manifestar.
Pior, tu ainda me puseste a discordar de Einstein, um ícone de inteligência. Ou seja, chamaste-me quase de "idiota". Rsss.
Brincadeiras à parte, tenho algo a dizer sobre a citação de Einstein.
Primeiramente, há que se destacar que nosso querido gênio pode estar falando de "imaginação" como um impulso criativo. Neste sentido, realmente, mais vale o lançar-se a novos saberes que um mero conformismo com o que já se estabeleceu como "conhecido"... ainda mais quando falamos de ciências positivas, que estão em constante "reparo".
Obviamente, estou contextualizando a frase de Einstein. E o fiz de modo absolutamente subjetivo.
Se nos ativermos ao que está escrito, fora de qualquer contexto específico, realmente a "imaginação" - como produção de imagens diferentes da mera representação do real - está citada como superior ao "conhecimento" - considerada como adequação entre a teoria e a realidade.
Entretanto, por uma reflexão simples, não acredito que Einstein, um eterno buscador desse "conhecimento" - o FIM -, pudesse colocar a "imaginação - o INSTRUMENTO/MEIO - como mais importante. Ou seja, valorizar o instrumento ante o objetivo final é completamente esquisito para alguém como Einstein.
Portanto, só posso imaginar que o contexto fosse o que indiquei acima.
O que achas?
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