sábado, 3 de outubro de 2009

Kierkegaard, na Casa do Saber

Dessa vez, o encontro na Casa do Saber foi sobre o dinamarquês Kierkegaard. A coisa começou a se mostrar ótima já na apresentação do professor: Karl Erik Schollhammer, dinamarquês, que leciona na PUC-RJ.
Isso mesmo.... um dinamarquês apresentando outro.
A primeira lição foi quanto à pronúncia correta do nome do dinamarquês mais famoso. Estamos acostumados a ouvir "Kirkgard", ou até "Kirkgaaaaard" (Rsss). Entretanto, o correto é "Kirkgórd". Já até me acostumei, após tanto ouvi-lo na aula.
Outra informação inimaginável para mim, que sempre vejo uma lista de, no máximo, uns dez livros do dinamarquês, foi saber que a primeira edição dinamarquesa de suas obras contava com 26 volumes. Mas, como havia ainda muito material inédito, a próxima publicação, que está em fase de conclusão, está sendo planejada em 55 volumes!!!! Só os diários têm cinco mil folhas!!!
O Soren humilhou nosso Spinoza, cujas obras completas - incluindo correspondências -, em francês, conta com apenas quatro volumes... excluindo-se apenas a "Gramática hebraica".
E não se esqueçam que o homem morreu mais novo que Spinoza, que se foi aos 44 anos, enquanto o dinamarquês faleceu aos 41.
Essas são apenas informações "periféricas". Pretendo colocar alguma coisa mais. 
De qualquer forma, dá para contar que, no intervalo, enquanto bebíamos um gostoso vinho português, aproveitei um instante de isolamento do mestre para traçar paralelos entre Kierkegaard e Heidegger - aproximação que sempre aparece, em vista do dinamarquês ser considerado o "Pai do Existencialismo". Ponderei sobre o alcance do conceito de "angústia" em Kierkegaard, que, pelo exposto na primeira parte da aula, diferia bastante da consideração ontológica de Heidegger. Aliás, o alemão sempre fazia questão de dizer que sua "angústia" - não dele, pessoalmente, mas de sua filosofia (Rsss) - não tinha um cunho apenas psicológico. O professor Karl confirmou que, em Kierkegaard, a "angústia", embora "estruturante" da existência humana, tinha apenas uma perspectiva psicológica. Inclusive, disse-me ele, Kierkegaard afirmava, por vezes, que estava fazendo uma consideração socio-psicológica existencial. Ou seja, no dinamarquês, estávamos sempre dentro de uma dimensão antropológica e psicológica, ao contrário da dimensão ontológica pretendida pelo alemão.
Para "apimentar" a conversa, perguntei: "E Heidegger conseguiu manter-se suficientemente afastado dessa dimensão psicológica, atendo-se somente à ontológica?". Ao que o professor respondeu: "Eu acho que não!".
É esse o ponto em que eu sempre entro em atrito com Heidegger - que ele não me escute: o "ontológico", segundo um ponto de vista "estruturante" da existência humana, penso, é a presença de uma psiquê. Heidegger toma as dimensões psicológicas da sua análise, evita propositalmente falar na tal psiquê, e sobe um nível, tomando "efeitos psicológicos" - ônticos, portanto -, que sempre estão presentes na estrutura da "natureza humana" - que, aliás, ele sempre nega haver - fazendo, portanto, obviamente parte da totalidade dos "Dasein" e os utiliza como se eles é que fundassem esses mesmos "Daseins".
Será que consegui dizer algo de forma mais clara que Heidegger? Rsss.
Depois eu volto ao "Kirkgórd"!


Um comentário:

Maria disse...

Dia 5 de Outubro. Teria sido como um dia 5 de um mês qualquer para nós, portugueses, se há 99 anos não tivesse sido Implantada a República. Penso que a maioria de nós, portugueses , nem sabe o significado que o dia 5, tem , ou nunca soube ou simplesmente se esqueceu e o encara agora apenas como mais um feriado e no entanto, há 99 anos este dia 5 era meticulosamente preparado, porque implicava muitas mudanças. Não, apenas de um regime monárquico para um republicano (aliás não sou defensora acérrima da republica, ela terá pontos fortes e pontos fracos, assim como a monarquia) mas de mais um cumprir de um sonho e o romper muitos outros sonhos que se poderiam seguir…como em tudo na vida. Acredito que os grandes mentores das mudanças o fazem acreditando piamente só que os que os seguem estão imbuídos de outros desejos de outras ambições e começam paulatinamente a adulterar o sonho inicial. Como diz o poeta “O sonho comanda a vida”, comanda, mas também a pode destruir.
A República trouxe muitas mudanças para o nosso país…trouxe, mas rapidamente sonhos se tornaram pesadelos…

De qualquer maneira...parabéns, para nós, neste dia...
Xiiiiiiii, divagando…rs
Senhor Júlio, continuo sendo secretária do senhor Ricardo, mas vou pedir-lhe licença sem vencimento. Como pouco faço para além de lhe lembrar o que ele jamais esquece, ele nem vai reparar…rs. Minha vida anda acelerada demais para dispor de tempo para vir ao blog, para além disso minhas grandes paixões são outras, não filosofia e ele anda tão envolvido em filosofia que não deve haver espaço mais nenhum para outros tópicos.
Agora tenho de ir.
Abraço