sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sugestão de leitura para os iniciantes



Comprei, ontem, o livro "Simples filosofia - a História da Filosofia em 47 crônicas de jornal", de Pablo Capistrano, pela Ed. Rocco. O subtítulo "História da Filosofia em 47 crônicas" me parece um pouco "ambicioso" demais. Eu colocaria algo como "Simples filosofia, em 47 crônicas". Mas o livro é muito agradável de ser lido. Penso que atende muito bem àqueles alunos que se interessam pela Filosofia e que desejam ir um pouco além do livro básico escolar.
O mais importante é que, ao lado de situações absolutamente quotidianas - e bem brasileiras -, o autor deixa "desfilar" pensadores como Heráclito, Parmênides, Kant, Nietzsche, Wittgenstein, Heidegger e outros. Na contracapa, um pequeno comentário  "Questões essenciais pensadas pela Filosofia de maneira original. É o que oferece este livro àqueles que não se deixam influenciar por preconceitos intelectuais e ainda guardam em seu coração uma pitada de humor, imaginação e desejo de ultrapassar o feijão com arroz da reflexão diária".
O autor, que é mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, entende que "é possível falar simplesmente de coisas profundas", e produz textos interessantes. Pela pequena extensão dos escritos, penso que ele consegue fazer um ótimo trabalho. Ele chega até a levantar reflexões que fogem à mesmicie dos textos didáticos comuns.
Numa das crônicas, por exemplo, ele explica que "a rigor a Grécia não existiu até 1820, quando houve a guerra de independência contra os turcos... antes, a Grécia (ou Hélade) não era um país, no sentido moderno, mas um amontoado de cidades-estado, mais ou menos independentes, com regimes políticos próprios, deuses particulares, composição étnica e jurídica distintas... Por isso, é muito impreciso dizer que 'a Filosofia começou na Grécia'. Primeiro porque Tales, o mais antigo filósofo... morava em Mileto, na costa da Turquia. Então, mais exato seria dizer que a Filosofia começou na Turquia". E Pablo complementa de modo muito bem humorado "Porém, dizer uma coisa dessas é perigoso. Poderia gerar sérios problemas políticos, porque os gregos e turcos têm uma relação um pouco menos amistosa do que a de brasileiros e argentinos às vésperas de uma final de Copa América".
Nessa mesma crônica, ainda discute se a Filosofia não teria uma gênese real no Oriente, ou pelo menos se não haveria um "influência" oriental sobre os primeiros filósofos gregos. E, em pouquíssimas três páginas, tem espaço para indicar que "Mas... Diógenes Laércio, eurófilo militante, defendeu a ideia de uma espécie de 'milagre grego'. Assim, a Filosofia teria surgido repentinamente... sem antecedentes... sem nenhuma influência do Oriente".
Em outra crônica - e, destaco novamente, apesar do reduzido espaço -, o autor nos mostra que a "Lei dos Três Estágios", sempre referida a Auguste Comte, no século XIX, teve como referência um trabalho do francês Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), escrito em 1750, sobre uma teoria de estágios de desenvolvimento social do homem. Pablo mostra que, segundo a dupla Turgot-Comte,o estágio filosófico teria substituído o estágio mitológico, preparando o estágio científico, e afima que essa visão da "Filosofia surgida a partir de uma ruptura inicial com a mitologia... acabou por se tornar um dos 'dogmas de livros didáticos de Ensino Médio'".
Portanto, recomendo a observação do livro pelos amigos do blog que são professores, a fim de que este possa ser sugerido aos alunos... e o mesmo serve aos amigos que são iniciantes na Filosofia, e gostam de uma leitura leve e com conteúdo.

2 comentários:

Maria disse...

Senhor Ricardo!!!
Estive a ler o post. Pode pensar assim, “Mas, não os lê todos?”. A verdade é que não. Não, não por falta de interesse, mas é mesmo por falta de tempo.
Aliás já ando um pouco confusa e atrapalhada com os novos amigos. Que nódoa de secretária internacional(dirá o Júlio). Mas já perdi a conta dos novos amigos. Por isso sejam eles quem sejam…que se instalem no blog e o desfrutem como nós já fazemos tendo em conta as possibilidades de cada um.
Quanto à Grécia, de facto o escritor foi feliz qd disse que as relações dos gregos e dos turcos eram ainda piores do que as dos argentinos e brasileiros…Estive na Turquia há uns meses e não é que o avião tem que fazer um desvio maluco porque as relações entre esses 2 países são tão tensas que não lhes é permitido entrar no espaço aéreo um do outro? Que loucura!!
Outra coisa que referiu foi a amálgama das cidades –estado gregas. De facto havia milhares, desde as enormes como Esparta, Atenas e Tebas, até às minúsculas, mas…faziam parte da civilização Grega, embora , neste momento, algumas façam parte de outros países, como muito bem referiu Tales. Se um dia for á Turquia(país obrigatória) verá que está pejada de monumentos. Há alturas que nem nos apercebemos se estamos na Grécia, ou em Roma, ou na Turquia…Enfim!!!
Viva a Filosofia, tenha ela nascido na Grécia ou em outro lado qualquer!!
Hoje vou ao Teatro ver uma peça do Dário Fo, um escritor, dramaturgo e actor italiano de que gosto particularmente…Já agora foi prémio Nobel da literatura em 97. Quarta fui ver outra peça dele. O actor era excepcional , a história em si fez-me lembrar Saramago, porque era sobre o menino Jesus e o menino Jesus era tudo menos aquele que estamos habituados a imaginar. A história em si nem me pareceu grande coisa, excepção feita á criação de um outro menino Jesus, mas o actor fez a diferença. Imagine um actor em palco mais de uma hora num palco nu(como eu gosto) apenas acompanhado por luzes e muito raramente por luzes.
Estou desejosa(minha filha tb) que cheguem as 22 horas).
Devo-lhe a da imaginação versus conhecimento, mas não vai ser hoje, ou vai ser causa de divórcio…rs. Meu esposo daqui a pouco vem almoçar daí que…
Um abraço e bom FDS
Maria

Maria disse...

...e muito raramente acompanhado por música...
Ai...ai