quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Gramsci

Outra matéria bem interessante da revista "Filosofia - Conhecimento Prático" deste mês, número 19, diz respeito ao pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937), de autoria de Daniel Rodrigues Aurélio.
O texto mostra a feliz história do jovem Gramsci indo estudar na Universidade de Turim; filiando-se ao Partido Socialista Italiano (PSI); aliando-se à dissidência do partido PSI, que viria a fundar o Partido Comunista Italiano (PCI), até a sua eleição como deputado pelo Veneto. Nesse meio tempo, o encontro, durante uma reunião da Internacional Comunista, no país de Lênin, com sua futura esposa e mãe de seus dois filhos, a violinista Giulia Schucht.
A partir de então, a fase mais triste. Após a sua eleição, em 1924, a presença do partido comunista no poder legislativo começou a afrontar o governo fascista de Benito Mussolini. Em 1926, Gamsci é preso e o PCI enviado à clandestinidade. Recebendo uma pena inicial de cinco anos, esta é estendida para vinte anos. Infelizmente, após diversos anos de reclusão, a saúde do pensador foi se debilitando acentuadamente. Em função disso, as autoridades lhe concederam a liberdade. Entretanto, não lhe restava muito tempo mais de vida.
Ao longo dos anos de prisão, Gramsci escreveu seus famosos "Cadernos do Cárcere" - que, originalmente, eram em número de 33 manuscritos, que foram publicados em seis volumes temáticos.
O texto explica que "Sua teoria... emergiu da necessidade de se buscar respostas, dentro da perspectiva marxista-leninista, para uma série de eventos da época". Esclarece, também, que "A obra de Gramsci se insere em duas tradições do pensamento político: a dos teóricos políticos de raízes italianas, cujo patriarca é Nicolau Maquiavel e a do nominado 'marxismo ocidental' - contraponto, nas palavras de Marcuse, ao 'marxismo soviético'".
Sobre este último aspecto, Daniel Aurélio, escreve: "Embora mais próximo de Lênin do que dos frankfurtianos, o pensamento gramsciano teve um efeito libertador para os intérpretes 'heterodoxos' de Marx". Aliás, este parece ser o grande trunfo de Gramsci: permitir-se libertar de uma doutrina dogmática, conforme a dos marxistas ortodoxos. Um exemplo dessa "heterodoxia" é dada pelo autor da matéria, que diz: "Na leitura proposta por Gramsci, a sociedade é um organismo complexo e relacional, que não pode ser totalmente explicado em termos de um determinismo econômico mecanicista, como propugnado pelo marxismo ortodoxo".
Entretanto, como sempre, Gramsci não é unanimidade. O autor expõe o fato que "Antonio Gramsci foi e é criticado à direita e à esquerda".
Por fim, o autor leva-nos a ponderar sobre a inserção do pensamento do italiano na atualidade. O último parágrafo diz: "A queda do muro de Berlim e a derrocada da URSS foram decretados os atestados de óbito do socialismo/comunismo pelos adeptos da democracia liberal. Mas será que a obra de Gramsci ficou soterrada nos escombros do 'socialismo real'? Para muitos, não. Seu pensamento continua a compor uma teorização marxista que, na tensão de divergências e aproximações, sobrevive nas ideias de Slavoj Zizek, István Mészáros e outros tantos marxistas contemporâneos".
Quem sabe uma boa sugestão de leitura para quem não concorda plenamente com o que se vê no capitalismo, mas também não crê no modelo marxista de socialismo.

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