A dificuldade da pergunta acima já fora sentida há muito tempo... com Agostinho. Sempre revisitada, e nunca respondida, a pergunta foi analisada na revista "Filosofia - Conhecimento Prático" deste mês.
O professor Guerreiro Parmezam, autor da matéria, reconhece que a pergunta o deixa em pânico, tamanha a simplicidade em vivenciar o tempo e a dificuldade em compreendê-lo.
O texto mostra a "evolução" do entendimento do tempo ao longo da História. O autor principia dizendo: "Nas sociedades primitivas, mais comumente ligadas à pré-história, o tempo não correspondia a essa relação de instantes sobrepostos, de começo, meio e fim". A ideia, então, era mais próxima a de "ciclos temporais", do que a de uma "linha com início e fim". Depois, o texto explica a mudança: "Além das cidades, da escrita e do Estado, certamente outro marco fundador do advento da civilização seria a noção de um tempo linear".
Uma outra explicação do autor foi a de que "o tempo, desde as primeiras civilizações da história até o período medieval, era o habitat natural dos deuses". Com o Cristianismo, e a substituição dos vários deuses por um único, o tempo ficou referido apenas a este. Ao lado dessa atemporalidade divina, tem-se o "tempo do mundo", que começa na Gênese e termina no Apocalipse.
O texto avança mostrando que com "o Racionalismo do século XVII... o tempo começou a se livrar dos grilhões de um ente superior, mas ainda assim não deixou de ser escatológico, pois o próprio Newton previu o fim do mundo". Aliás, no caso específico de Newton, nem os tais "grilhões de um ente superior" estavam totalmente rompidos; afinal, Newton também acreditava em uma interferência divina, de tempos em tempos, para corrigir algumas distorções que iam ocorrendo paulatinamente.
As modificações continuam. "Foi somente no século XVIII, durante o Iluminismo, que a ideia de Apocalipse pareceu dar seus primeiros sinais de erosão". Afinal, devemos lembrar que o Iluminismo parte para uma visão de uma "espiral", em que o tempo futuro sempre trará mais "evolução"... e não um "termo final".
Achei, entretanto, que o ponto alto do texto foram os dois últimos parágrafos. Lá está uma certa consideração "social" sobre o tempo.
No penúltimo, está escrito: "Ao considerarmos deselegante questionarmos alguém sobre sua idade, teríamos hoje uma relação conflitante com o tempo? Não há dúvidas que tentamos repeli-lo, principalmente no desenrolar da vida adulta, por meio de academias, maquiagens, arsenais sintéticos e intervenções cirúrgicas. Tornamos nossas crianças miniadultos precoces por meio de agendas massacrantes e erotizações doentias e nossos adultos travestidos, ridiculamente, de adolescentes mimados e narcisistas. Tentamos, em vão, pela via estética, usurparmos o tempo do tempo".
E, no último, é lançado um desafio interessante: "Que tal, por alguns dias (só dá para ser nas férias), de preferência longe de algum grande centro urbano, guardamos os relógios nas gavetas e novamente revivermos a perspectiva de deixarmos o ciclo da vida ditar nosso ritmo? A fome ditar nosso apetite? O sono ditar nossa noite? A libido ditar o contato do amor? Pois é, talvez sermos atemporais seja a melhor forma de curtirmos o tempo e, como nossos antepassados faziam há séculos e séculos, vivermos em paz com ele".
Chega a ser difícil ao menos pensar na possibilidade de "abandonar" um controle tão rígido do tempo, sendo simplesmente levados pela natureza. Mas, que é uma ideia interessante, isso é.
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