Talvez não seja justa e completamente exata a aproximação que fiz entre o Inconsciente - segundo a visão freudiana - e a "consciência infeliz" - de Kierkegaard. Afinal, o Inconsciente não é necessariamente um "lugar" de conteúdos de valor negativo. A bem da verdade, nem "lugar" ele é exatamente.
O fato é que, quando eu carreguei o conceito freudiano de Inconsciente com as cores kierkegaardianas da infelicidade e da angústia, eu desprezei o fato de que o Inconsciente tem conteúdos recalcados da consciência por serem ruins - em termos valorativos - para esta última... mas não necessariamente ruins "em si". Aliás, quando as coisas correm bem na nossa vida psíquica, Inconsciente e Consciente convivem harmonicamente, inclusive, com este último se valendo do anterior para manter a saúde do nosso eu, transferindo conteúdos "problemáticos", segundo sua perspectiva, através do fenômeno do "recalque", para o Inconsciente.
Então, embora estruturalmente devamos reconhecer que Inconsciente e Consciente estão no homem, para Freud, e que também há instâncias estruturais na subjetividade para Kierkegaard, há que se perceber que não cabe um juízo de valores quanto aos elementos estruturais de Freud, enquanto esse juízo é possível nos elementos kierkegaardianos - infelicidade e angústia... ainda que estes possam servir de apoio a um "salto" qualitativo, segundo o pensamento religioso do dinamarquês.
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