Minha querida amiga Maria fez o seguinte comentário em um dos posts: "Não sei até que ponto é que a poesia é uma 'linguagem vaga'. A não ser que, para o senhor, subjetivo e vaga tenham a mesma conotação. É possível falar de Pessoa como se fala de Spinoza. A poesia de Pessoa é reflexo do seu pensar, das suas vivências, das suas circunstâncias, certamente que sim, embora ele extravase até isso... até onde sei, há muitos poetas/escritores a usar heterônimos, mas até agora não há comparação possível com Pessoa. Pessoa leva-nos ao nosso interior, mexendo com ele; é como se ele estivesse vivo e conseguisse penetrar em nós. Depois tem heterônimos (obviamente falo dos principais) que se adaptam a todas as pessoas /personalidades. Ele , por vezes, é objetivo, e muitas mais outras vezes a subjetividade sai por todos os poros da sua poesia... mas aí a arte fala mais alto e aí rendo-me... como em todas as artes, depende da forma como o sujeito se posiciona perante o objeto. Será a linguagem dele vaga? Ela não é para os teóricos , ela não é quando fala de mitos, quando fala de grandes portugueses ,ela não o é para os amantes dele, ela não é para mim. A linguagem de Pessoa não é vaga, o que sinto quando o leio é que se pode tornar vago".
Como os comentários ficam mais "escondidos", resolvi trazer esse para o "corpo principal" do blog, a fim de possibilitar alguma discussão sobre o assunto.
Penso que podemos dizer a mesma coisa apelando a diversos tipos de linguagem. Entretanto, parece-me que algumas "áreas" da realidade se adequam melhor a determinados tipos que a outros. O filósofo Rudolf Carnap, famoso participante do Círculo de Viena, por exemplo, disse "o que carece de sentido cognitivo é mais bem expresso na linguagem da poesia, assumindo-se a mensagem como meramente emocional".
Outra citação interessante que eu gostaria de fazer seria uma do livro "O cinema pensa", de Julio Cabrera, que é a seguinte: "... é conveniente observar que a razão filosófica tradicional não é tão 'fria' como pretende ser, não está totalmente despojada de emoção, nem entregue ao puramente objetivo".
Juntando essas duas afirmações - que apresentam uma certa oposição -, eu diria que determinadas "áreas da realidade" têm um sentido mais cognitivo - embora não "puramente cognitivo" - que outras. Para essas áreas, o tipo de discurso tradicionalmente usado pela filosofia pode ser mais adequado. Para outras áreas, entretanto, "menos cognitivas", onde o aspecto "emocional" se destaca sobre o "racional", a poesia cria melhores "conceitos-imagem" - utilizando a ideia de Julio Cabrera - que o tipo discursivo de linguagem.
Quando se fala da nossa "vida" - sob o ponto de vista do Existencialismo -, acho que a Filosofia, por exemplo, acaba parecendo Psicologia. Talvez, aí, Pessoa consiga uma abordagem melhor que os filósofos existencialistas... ou psicólogos.
De qualquer forma, acho que a linguagem "simbólica" - que a poesia usa bastante - leva alguma vantagem sobre a linguagem filosófica - pelo menos a clássica - quando aborda a "totalidade"; perdendo, entretanto, quando se começa a "esmiuçar"/analisar essa totalidade. A força do símbolo vai se esvanecendo quando se olha com uma "lupa". Aliás, eu já falei disso quando comentei sobre o par "simbólico" vs. "diabólico".
Apesar de meio confuso, espero que o post suscite novas apreciações do assunto.
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