Roberto Da Matta, famoso antropólogo brasileiro, escreveu há algum tempo em O Globo um texto que começava falando de turismo, mas que, de repente, ganhava uma virada. As imagens sugeridas são interessantes. Por isso, registro o que ia escrito lá:
"Agora, viajo para dentro! Faça o exercício. Excursione para dentro de si mesmo. Visite os Estados Unidos dos Recalques, o país daqueles seres e experiências que você tentou expulsar de dentro de si mesmo. Passeie pelas Europas da Paris dos amores frustrados. Visite a Terra de Ninguém das Grandes Broxadas... Não perca o Louvre e o British Museum dos tesouros e inocências perdidos. Aproveite o carrossel, a roda gigante, o show e o picolé que rapidamente derrete de Sexolândia. Compre na maravilhosa Bloomingdale que está dentro de você um último modelo de ressentimento - a chegar em breve ao Brasil. Nestas grandes lojas, aliás, as ingratidões, os ódios e as invejas sempre estão em liquidação e são baratíssimos. Siga, depois, até o país mais aberto do mundo, o do Sofrimento - uma terra igualitária e sem fronteiras. Lá, você pode conferir o volume da sua cachoeira de egoísmo, cretinice e inveja que alimenta o lago do sucesso que você com frequência atribui aos outros. Agora, lembre-se que você precisa de um passaporte devidamente visado para penetrar nos Territórios Tabus e para percorrer o fedorento Pântano da Traição, habitado por jacarés com suas numerosas... máscaras. Só ouse subir até o último andar do edifício das Fantasias Eróticas com a cabeça aberta ou fresca. E só entre na Roma e na Brasília das Promessas Populistas Triunfais de um Brasil Grande, onde cada palavra vale tanto quanto um confete, devidamente vacinado contra a demagogia, o culto de personalidade e a mentira. Mas não se esqueça, querido leitor, de escalar o Monte da Compreensão. No seu topo e num dia claro, você - quem sabe - poderá contemplar sua própria trajetória vendo com clareza os grandes e os pequenos obstáculos. Dali, é possível ver o grande e profundo Oceano do Amor que recebe e devolve todos os nossos impulsos de gratidão, de reconhecimento e de coragem. Essas coisas que transformam o frágil e o transitório nas únicas coisas que interessam a quem se tornou realmente humano".
Esse "Monte da Compreensão" deve ser tão dífícil de escalar quanto o Everest. Espero que, a cada dia, mais pessoas finquem suas bandeiras pessoais em seu cume. E, a partir de lá, vislumbrando o grande "Oceano do Amor", convençam-se de que é preciso mergulhar de cabeça em suas águas.
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