Há algum tempo eu registrei o desejo de escrever sobre o livro Homens em tempos sombrios, de Hannah Arendt, mais especificamente sobre o capítulo "Martin Heidegger faz oitenta anos".
Antes de o fazer, porém, quero transcrever um trecho do Posfácio "Hannah Arendt: vida e obra", de autoria de Celso Lafer. Nesta passagem, Celso mostra que o respeito (ou ainda seria amor?) de Arendt por Heidegger era tão grande que ela não queria feri-lo demonstrando discordâncias em relação ao seu pensamento... talvez, pelo menos, numa época em que Heidegger não teria mais "forças" para rebater à altura os argumentos da grande pensadora.
Lafer escreve: "Intelectualmente, Hannah Arendt coincide com Martin Heidegger quanto ao entendimento da função da linguagem como preservação e revelação. Daí o seu permanente interesse pela literatura e o seu encanto com a poesia e com os poetas. A Heidegger, Hannah Arendt deve sua visão da relação entre o ser e a temporalidade, que é o que explica o seu entusiasmo por Ser e Tempo. Não aceitava, no entanto, a preocupação exclusiva de Heidegger com a história do ser, que o obnubilava para a história humana e, portanto, para um existencialismo aberto, como o de Hannah Arendt, em relação a temas como os da comunidade, do diálogo, da amizade, da pluralidade, da natalidade e da ação. Entretanto, só se dipôs efetivamente a fazer uma crítica profunda a Heidegger - sobretudo ao segundo Heidegger, cuja rejeição da vontade, no entender de Hannah Arendt, o impedia de perceber as possibilidades da política e da ação - naquilo que veio a ser The life of the mind, mais precisamente em 1974, quanto reviu os textos de suas 'Gifford lectures' e estava certa de que Heidegger, aos 85 anos, velho e próximo da morte, não mais a leria".
Como eu disse, talvez fosse mais o amor do que o respeito por Heidegger que a fizesse calar suas opiniões até praticamente o fim do profundo pensador alemão. Afinal, talvez, a maior prova de respeito fosse justamente explicar seus pontos de discordância em relação ao mestre. Acho que um pensador honesto aprecia mais uma opinião contrária bem fundamentada do que uma concordância "vazia", emitida por alguém impossibilitado de fazer uma crítica justa. O contraditório estimula o próprio pensador a enxergar novas possibilidades e novas perspectivas... chegando até a viabilizar "correções de curso" no seu pensar.
Mas eu ainda escreverei sobre "Martin Heidegger faz oitenta anos"!
Um comentário:
Não entendo dos autores em questão. Li algumas obras da Arendt, mas leitura superficial. Portanto, só vou deixar uma saudação e um feliz 2010 pra vc e para o blog! Eu estava deitado, tentantdo dormir e pensei: sobre o quê será o Ricardo anda escrevendo? Vim ver! Abraços
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