terça-feira, 19 de julho de 2011

"10 Lições sobre Maquiavel"

  Gostaria de registrar, em separado, aquilo que chamei de "conclusão", no livro de Vinícius Soares de Campos Barros.
   Antes, porém, devo fazer a ressalva de que há um capítulo intitulado "A religião como instrumento do Estado", que nos remete ao assunto abordado no post "eSPINzofrenia...". Nesta "lição", inclusive, o professor Vinícius S. C. Barros responde a uma questão muito discutida "Maquiavel era ateu?".
   Vejo, constantemente, os mais apressados responderem afirmativamente. Mas teremos que ver que tipo de "ateísmo" está em jogo. Se este disser respeito às doutrinas formais da Igreja romana, certamente a resposta será "Sim, Machiavelli era ateu!". Entretanto, poderíamos pensar em um Machiavelli simplesmente anticlerical, mas não necessariamente "ateu", como um "crente na inexistência do Deus judaico-cristão".
   Mas isso é papo para outro post. Vamos, então, à "conclusão"!
  Lá se explica a tese de que Machiavelli era realmente um republicano, apesar do que lemos na sua obra mais divulgada, "O príncipe". Até porque, esta perderia em conteúdo para os chamados "Discursi", os "Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio", onde a defesa da República está fortemente bem estabelecida.
   Citando o autor, então:
   "Chegamos neste ponto a algumas conclusões que enfeixam todas as ideias até aqui explicitadas: Maquiavel é um republicano e patriota que admira a ideia de um Estado livre, porém - a fim de alcançá-lo - constrói em O príncipe a figura de um ditador de transição - do príncipe novo - capaz de unificar sua pátria, dotá-la de leis justas e preparar o porvir republicano; essa figura ditatorial é inspirada na instituição da ditadura romana, que era acionada - em situações excepcionais - a fim de, subtraindo direitos e liberdades, manter a paz e assegurar a salvação pública; essa instituição republicana da Antiguidade Romana, que é um modelo para nosso autor, seria a inspiração do que conhecemos modernamente como Estado de Sítio, Estado de Exceção, Lei Marcial, etc.
   Portanto, O príncipe trata da excepcionalidade daquele momento por que passa a Itália e que requer o uso da força a fim de instaurar uma ordem estatal moderna, estável e segura. Já os Discursos sinalizam para a real propensão política de nosso secretário: a defesa intransigente do viver livre sob os auspícios de um república bem-ordenada. A primeira obra retrata o presente - uma situação de crise - e almeja uma solução; a segunda, fala de estabilidade e pujança, logo, do passado e do futuro. Do passado grandioso da antiga República Romana e do futuro desejado por Maquiavel para a sua Itália. O príncipe, assim, traduz seu frio realismo; os Discursos, seu idealismo cívico e comovente."
   Fantástico!

Nenhum comentário: