quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Confessional"

   Já há algum tempo, li uma coluna de José Castello, no caderno Prosa & Verso, do jornal "O Globo", que me chamou muito a atenção. Logo após a leitura, pensei em descrever o lido aqui no blog. Mas, tempo vai, ocupações vêm, e não realizei o pensado. Ponho, entretanto, agora, a fazê-lo. Não sem antes dizer que lembrei imediatamente da nossa amiga Maria, esta lusitana que, além de professora de História, é muito envolvida com teatro... incluindo a produção de peças com seus alunos.
    Pois bem, o fato é que José Castello contava que, em 1990, encenou-se uma peça sobre a vida de Van Gogh, sob a direção de Márcio Vianna. Nada estranho, até aqui. Afinal, o "atormentado" pintor mereceria estar presente em várias "mídias" culturais.
    A curiosidade é que a peça, de nome "Confessional", tinha duas versões. Na primeira, apresentada num teatro em Copacabana, os treze atores conduziam pessoalmente os espectadores da peça - que também eram apenas treze - aos seus assentos, que, depois, eles percebiam simular a parte interna de um confessionário. Como confessor, o espectador ouvia o que dizia cada um dos personagens - o próprio Van Gogh, seu irmão Téo, seus pais, o psiquiatra Paul Gachet, etc. - contando suas experiências pessoais do e na relação com o pintor.
   Encerrado esse primeiro momento, os espectadores tinham vivenciado uma exposição fragmentária, e até mesmo contraditória, do pintor.
   As luzes se acendiam e os atores, com seus trajes de época, conduziam os espectadores até um ponto de ônibus, onde estes tomavam um veículo que os levava até um outro teatro em Ipanema. Aí, eram colocados em seus assentos, e assistiam aos mesmos atores apresentando, agora numa versão clássica, oficialmente consagrada pelos biógrafos, outra peça sobre a vida de Van Gogh.
    José Castello escreve que "os espectadores sentiam um grande desconforto, quando não irritação, diante daquela impecável encenação... [pois] a narrativa realista expunha, de modo escandaloso, seus aspectos não só artificiais, mas fraudulentos".
   Imaginem que experiência estética maravilhosa participar de uma montagem assim.
   Que tal a dica, minha querida amiga Maria?   

Um comentário:

Clara Maria disse...

Senhor Ricardo!!!
Que dica !!! Fiquei esmagada por ela. Numa altura em que a cabeça anda apenas focada num assunto – escola/avaliação… o senhor me passou a perna, ou melhor me obrigou a mudar o foco. Adorei a dinâmica, a ideia. Fez-me lembrar muito o teatro de Grotowski, talvez ele tenha sido o meio de inspiração... até porque foram contemporâneos. Essa proximidade de actor/espectador que coloca o actor mais vulnerável, muitas vezes misturado com o público, que nunca era muito, é típica de Grotowsky, mesmo o ambiente envolvente. Na “Akropolis” , de Grotowsky,os actores representavam prisioneiros de um campo de concentração, o ambiente onde o público entrava era numa estrutura de um crematório, imagine como seria.
Mas esse Márcio vai mais longe… por um lado aproveita a inquietação de Van Gogh e a sua vida meio bizarra, inquietante e a resvalar a insanidade mental e cria um cenário fantástico, dando uma perspectiva muito abrangente de Van Gogh, dele e das pessoas que o rodeiam, depois desta experiência fantástica que o espectador tem convidam-no a ir ver um teatro, clássico, da mesma peça…que maldade !!
Que fantástica experiência tiveram os espectadores !! Adorava ter sido eu…
Depois de ler este seu post lembrei-me que tinha visto em rodapé na TV um teatro sobre Van Gogh...Fui pesquisar... Essa companhia tem sede em Vila Real, uma cidade do interior norte, lonnnnnnnnge daqui, mas o curioso é que está em digressão pelo Rio. O teatro chama-se Vincente, Van e Gogh….Segundo percebi anda à volta de 3 personagens que no fundo são a mesma pessoa. Explora naturalmente não só a imaginação ilimitada dele, como também um pouco a esquizofrenia... e ávida atribulada…acho. Só vi/li uma resenhazita. Outra coisa curiosa é que já apresentaram uma peça de…Pessoa. Bem…e que há semelhanças entre Pessoa e Van Gogh… lá isso há, para além da genialidade, o resvalar da loucura, a inquietação …Curiosamente o meu poeta favorito e um dos meus pintores favoritos também.
Muito obrigada por partilhar, no seu blog , um post de Teatro. Agora vou voltar para o trabalho e embora esteja a tomar doses de vitamina suplementar , tem sido uma fase muito marcada de stress e conflitos interiores.
Um abraço para todos
Maria