Sabemos que, ao tempo de Machiavelli, os textos aconselhando os monarcas sobre a boa arte de governar eram comuns. Quem começou essa "moda", entretanto, está vários séculos distante do florentino. Trata-se do filósofo estoico Lúcio Aneu Sêneca ( 4 aC - 65).
Conta-nos Marilena Chauí, em "Introdução à História da Filosofia" - volume 2 - As escolas helenísticas:
"Sêneca se dispõe a educar o príncipe: escreve o Da clemência, na expectativa de fazer de Nero um homem virtuoso. Com esse tratado, Sêneca inaugura um gênero político-literário que só desaparecerá com a obra de Maquiavel: o espelho dos príncipes ou a formação do governante virtuoso do qual dependerá a virtude da cidade e dos cidadãos. Esse gênero de discurso tornar-se-á, a partir da Idade Média, o fundamento da teoria política do Bom Governo, definido pelo conjunto das chamadas virtudes principescas (clemência, constância, magnanimidade, justiça, liberalidade, fortaleza, coragem)."
É certo que o nosso querido florentino subverte a ordem das coisas, deixando de ditar ao governante as "virtudes principescas" - que formariam o "ideal" do bom governante -, para apresentar-lhe a realidade dos fatos, incentivando-o, isso sim, a agir em conformidade com as circunstâncias políticas efetivamente dadas e não segundo aqueles padrões de valores meramente desejados pela imaginação.
Importante lembrar que, se para o estoico "a política é uma expressão da ética", para o florentino, política e ética/moral são duas instâncias autônomas.
Talvez o "imperador maluquinho" Nero preferisse Machiavelli a Sêneca como "amigo de César".
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