Quem se interessou pelo post porque pensou, a partir do seu título, que eu traçaria paralelos entre as Filosofias Políticas de Machiavelli e Foucault, pode desistir... pelo menos por enquanto.
Escrevo basicamente para dizer que concluí a leitura de dois livros, um sobre o florentino, outro sobre o francês, que achei ótimos.
Ambos são pequenos na extensão, compartilhando também a característica de serem formados por artigos não necessariamente conectados por uma ordem que precise ser rigorosamente seguida.
Aconselho ambos para aqueles que quiserem se aproximar tanto do pensamento de um filósofo quanto do outro. Leves no quesito "leitura", têm a qualidade de possuírem bastante conteúdo... apesar de algumas diferenças específicas.
O livro "Como ler Foucault", de Johanna Oksala, foi publicado pela Zahar, agora, em 2011, é composto por dez artigos que, com as limitações do formato, cobrem todos os "três Foucaults" - o arqueologista, o genealogista e o ético-político.
O primeiro dos artigos, intitulado "A liberdade da filosofia" descreve Foucault respondendo à pergunta que já fizera várias vezes, considerada por ele mesmo, a "questão essencial da filosofia", que era "Qual é a natureza do presente?". O livro indica que "Ao responder, Foucault revela entender que a filosofia abre um espaço para a liberdade. O papel do intelectual é expor novos modos de pensamento: fazer as pessoas verem o mundo à sua volta sob uma luz diferente, pertubar seus hábitos mentais e convidá-las a exigir e instigar a mudança. O intelectual não é a consciência moral da sociedade, seu papel não é emitir julgamentos políticos, mas nos libertar, ensejando maneiras alternativas de pensar".
Gostei dessa! Depois postarei outras deste livro.
Desse mesma coleção "Como ler...", há um livro sobre Lacan, escrito por ninguém mais, ninguém menos que Slavoj Zizek.
Já o livro sobre Machiavelli faz parte de outra coleção de livros, todos no formato "bolso". Trata-se da coleção "10 lições sobre...".
O "10 lições sobre Maquiavel" é escrito por Vinícius Soares de Campos Barros, publicado pela Editora Vozes, no ano de 2010.
Grata surpresa ter um livro contendo tantas referências à pesquisa bibliográfica como este, num formato tão "palatável". O livro não é, em absoluto, um conjunto de recortes. Muito pelo contrário: o texto é bem concatenado pelo autor, mas recebe uma fundamentação muito forte e precisa nos apelos que faz a comentadores já estabelecidos e, principalmente, aos próprios textos do florentino.
Coincidentemente, com relação ao livro citado antes, são dez artigos - como o próprio título indica. Os textos tratam desde o cenário renascentista até de conceitos específicos da filosofia macheavelliana - como "verdade efetiva" e "virtù e fortuna".
O ponto alto do livro, entretanto, é sua "conclusão" - que, na verdade, aparece antes do que o autor efetivamente intitula "Conclusão" . Chamei de "conclusão" em função de me parecer ser a conclusão em relação à tese apresentada pelo próprio autor. O que ele chamará de "Conclusão" será, em realidade, a explicação de como se deu a recepção da doutrina de Machiavelli, desde o seu tempo e, depois, através dos séculos que se seguiram à sua morte.
O livro é excelente. Eu só faria uma pequeníssima ressalva quanto à escolha de uma palavra - uma única "palavrinha" - para traduzir "politeia", uma das formas de governo puras de Aristóteles. O professor Vinícius Barros optou por "democracia". É verdade que essa é uma forma corriqueira de traduzir politeia, mas não é a melhor. Na ausência de uma boa escolha, que parece se configurar com o uso da palavra "constituição", haveria a opção pela simples transliteração do grego, usando politeia mesmo.
É preciso registrar que se para nós, hodiernos, "democracia" significa a melhor das formas de governo possíveis, para o Estagirita, esta seria uma das três formas corruptas - tirania, oligarquia e democracia. Muitos, por essa simpatia que devotamos à democracia, no seu sentido atual de "governo de participação mais ampla da sociedade", usam, para as três formas puras "monarquia, aristocracia e democracia", modificando as três corruptas para "tirania, oligarquia e demagogia/oclocracia".
De minha parte, ainda prefiro registrar "monarquia, aristocracia e politeia".
Fora esse mínimo, quase imperceptível detalhe, que faz parte do critério de escolha do autor, mas não significa, de modo algum, um erro, o livro é nota dez!
Por uma pequena quantia, estão garantidos os acessos privilegiados aos pensamentos de Foucault e de Machiavelli.
E... boa leitura!
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