O filósofo espanhol Fernando Savater, em seu ótimo livro As perguntas da vida, escreve:
"Filosofamos partindo do que sabemos para o que não sabemos [...]; em muitas ocasiões filosofamos contra o que sabemos, ou melhor, repensando e questionando o que acreditávamos já saber. [...] quem não for capaz de viver na incerteza fará bem em nunca se pôr a pensar".
Savater registra que a ousadia de perguntar tem que acompanhar a coragem de permanecer numa constante incerteza a respeito de algumas coisas. Entretanto, há talvez necessidade de uma coragem ainda maior: saber algo que não agrada ou que vai contra as próprias convicções.
A saída para quem não tem essa coragem é não se pôr a pensar.
Eu tenho uma pessoa conhecida que é casada com uma outra, a qual é cristã. Essa primeira pessoa, minha conhecida, é muito investigadora, e está sempre a pensar sobre o mundo. Um dia, inquiriu à outra o que ela pensava sobre um ponto específico da sua religião. A pessoa perguntada respondeu tranquilamente: "Eu não quero pensar, pois tenho medo de descobrir que nada do que acredito é verdadeiro!".
Bem honesta, essa pessoa. Mas será que dá realmente para desligar o botão investigativo? Particularmente, acho que eu não conseguiria. Aliás, foi bem assim que fui deixando o Cristianismo e mesmo o Budismo, isto é, pondo-me a pensar sobre aquelas crenças que deveriam ser também as minhas.